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Descartes e o Racionalismo - Parte XIV - Apêndice, o Empirismo - segunda parte

 
Após esse breve passeio pela história do Empirismo, veremos na sequência as suas diferenças mais importantes com a Filosofia da Razão.

O Racionalismo e o Empirismo modernos são duas correntes filosóficas que tem em comum a origem europeia, sendo o primeiro na França e o segundo na Grã Bretanha, e a época de nascimento, por volta dos séculos XVII e XVIII, na chamada Idade Moderna, a qual ficou caracterizada como a época em que se sacudiu o jugo obscurantista medieval através do resgate da antiga cultura helênica e persa, o que permitiu o florescimento nos campos das Artes, da Política e da Filosofia. Uma espécie de avant première do futuro Iluminismo que, posteriormente, rompeu em definitivo com algumas das mais sombrias práticas da Idade Média.

E nesses poucos aspectos resumem-se as convergências entre os dois Sistemas, pois as suas diferenças são de tal importância que ambas as tendências devem ser vistas como paralelas, sem qualquer ponto de contato. Contudo, o diferencial que representam deve ser compreendido mais como uma complementação de que como um simples antagonismo, pois essas diferenças tornaram-se a base para importantes avanços na seara do Pensamento.

Isto dito, passaremos a citar as principais visões de cada doutrina sobre o mesmo tema:

- A diferença mais aguda e visível entre os Sistemas é referente à importância que se dá aos Sentidos (tato, visão, audição, paladar e olfato), enquanto órgão de captação de informações. Para os Racionalistas os “Sentidos” não são confiáveis, por serem facilmente ludibriados e, portanto, as informações que carreiam não podem ser consideradas corretas ou verdadeiras, o que causa um saber deficiente e até equivocado. Para os Empiristas a questão da inconfiabilidade pode ser solucionada com o uso de “filtros mentais” que analisem a veracidade das informações obtidas. Ademais, sem as informações que as experiências sensoriais captam e transportam, torna-se impossível a obtenção de novos saberes, haja vista que para os adeptos do Empirismo as ideias inatas inexistem e as tradições, costumes etc. são meras reproduções de ideias anteriores.

- Partindo-se dessa primeira divergência, chega-se à questão do “a priori” e “a posteriori”. Ambos são termos latinos que designam a consciência de um fato antes e depois de ter havido uma experiência que o detecte. Os Racionalistas privilegiam o “a priori”, como nos casos do saber matemático (sabe-se que 2+2=4, independentemente de qualquer experiência anterior), enquanto que os Empiristas valorizam o “a posteriori”; ou seja, a posterior observação metódica dos “efeitos” que foram produzidos por uma determinada “causa”, como sucede, por exemplo, nos estudos sobre a Mecânica.

- Outra divergência importante é relativa à questão do “fenômeno”, pois, embora ambos concordem que o homem não consegue conhecer a essência da coisa, a “coisa em si mesma”, mas apenas o seu fenômeno (ie. aquilo que é perceptível, captável); para os Racionalistas esse conhecimento parcial acontece sobre o Intelecto do indivíduo e para os Empiristas, sobre os Sentidos do mesmo.

- Desse modo, em face das divergências apontadas, para os Racionalistas a Razão é o único órgão adequando e completo do Saber e isso implica que todo Conhecimento só pode ser considerado verdadeiro, válido, ser resultar do raciocínio. E para que essa racionalização seja inquestionável é preciso que tudo, absolutamente tudo, seja submetido ao crivo da “dúvida sistemática”, em conformidade com o “Método Cartesiano”. É, certamente, uma forma de tornar “racional” a própria realidade. Já para o Empirismo, cujo cerne é a crença de que todo Conhecimento provém da experiência (empeiria, latim), o Saber ou o “conhecimento do mundo” é mais um elemento psicológico, subjetivo, individual, sem vínculos necessários com a realidade objetiva, pois a sua aquisição provém da experiência externa e interna e não só da Razão individual.

- Por fim, observa-se que o Racionalismo ao admitir a existência efetiva de “ideias inatas”, de “intuições diretas”, de “deduções puramente intelectuais” e doutros elementos, digamos, “abstratos”, abarca com mais amplitude as questões metafísicas, subjetivas etc. Em contrapartida, o Empirismo vincula-se mais com as “Ciências Naturais”, com as questões práticas e políticas do homem e de sua Sociedade.

§§§

Como se disse antes, as divergências entre os dois Sistemas devem ser vistas mais como complementação de que antagonismo, pois se o estudo das questões mais elevadas é sempre um exercício indispensável, naquela quadra da história a contribuição do Empirismo foi decisiva, tanto por apresentar uma alternativa ao hegemônico Racionalismo, quanto por ter deitado as sementes para as futuras reformas políticas, religiosas e sociais que os pósteros lograram alcançar.


FIM

Lettré, l´art ET la Culture. Rio de Janeiro, Verão de 2015.


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FabioVillela
 
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