II
Nada, terá um efeito assustador para alguns, para outros será apenas uma palavra vulgar, habitualmente sustentada pelo que os rodeia. Nada, pode ser o lugar mais indigesto onde as convulsões se tornam em embolia amnésica ou o despertar da abelha rainha para um mel raro.
Já produzi casulos de ecos, afiei navalhas nas cordas vocais e rasurei a linha perpendicular ao esófago. Voltei ao meu interior sem querer e, roubei-te um fado maldito, cheio de dó’s menores, podia transformar-me em tudo mas o tudo é muito pouco comparado com o pouco que procuro. Como é difícil investir em planos e segui-los afincadamente, sendo o que se deseja nada plano e muito menos físico. O corpo é insuficiente para me movimentar lá dentro, o ar asfixiante é poluído, bastava-me um vidro para saltar para o outro lado. Os lugares nunca foram o meu forte, tu sabes que sim, qualquer rua serviria para me perder sem ti.
Subi algumas vezes ao céu, onde mora o “Principezinho”, falou-me de ti, voltei sem saber quantos degraus desci.
Será mesmo que desci?
Por instantes tive a sensação que subi, confundi-me com estradas sem asfalto, flutuantes como as nuvens de algodão doce, depois só me lembro de te dizer:
- Até já!
É sempre um até já que fica, longo ou breve, nunca se descodifica esta breve despedida.
(Continua)
Conceição Bernardino – in “do outro lado do espelho” - 2014