Eis a cidade dos que não pensam mais,
Dos que são apenas coisa
Que não julga ou medita,
Que não chora ou grita
Nem olha para trás.
Eis enfim a sublime verdade
Anelada por tantos,
Por monges e abades:
O ser infenso ao engano
E à maldade.
Eis o fim de toda a divisão,
De sentir-se descontínuo,
De procurar, aflito,
O que é contínuo
No seio breve da paixão.
Eis o fim
De procurar-me em tudo
E só encontrar-me em mim
Perdido, sem deus
Ou serafim.
De julgar tudo
No pensamento
E não ver que
Todo o juízo
É um punho violento
No espírito
Repleto de certezas
E tormentos.
Que todo rosto,
Seja o da deusa
Ou de um menino,
Tem o mesmo destino
Que o das nuvens
No firmamento.
Eis o fim
De toda a procura,
Para enfim nos tornarmos
Memória, lápide
Ou escultura.
Eis o fim!
Fim da imensa jornada,
Da clausura do eu,
E se tornar coisa insofismável,
Muda e quieta - breu
No espírito do nada.