Ela olhou... A sala estava vazia,fria e silenciosa.Pela cabeça dela passaram as recordações já idas de outros Natais passados,com a mesma lareira que agora se encontra tristemente apagada acesa e com o frenesim dos seus filhos a correr e a brincar á volta da àrvore de Natal sempre enfeitada pelo seu marido e com a ajuda dos miúdos.E uma lágrima deprimente lhe correu pelo rosto de angústia e saudade desses tempos onde a felicidade ainda habitava na sala onde agora jaz prostada a vontade de viver.E viver para quê? Seu marido falecera há anos,seus filhos emigraram e só ligavam de vez em quando quase por obrigação,e a lágrima brotada engrossou e suas faces quase desfaleceram de dor.Mas porquê? Ela que sempre fora uma boa companheira e uma grande mãe,agora agoniava numa véspera de Natal sozinha,vivia num complexo de apartamentos rodeada de uma multidão invisível onde um Bom dia era raro e um olhar de simpatia era algo deixado á porta antes de se entrar. E levantou se do seu sofá coçado para ir á cozinha,o mesmo que outrora tinha sido palco de imensas alegrias e noites quentes na companhia de seu marido quando eram mais novos,e agora só servia para descansar as suas costas.Na cozinha desligou a chaleira fumegante do chã pois nem Ceia de Natal lhe apeteceu fazer... Para quê? Jantar sozinha sõ na companhia de recordações dolorosas da alegria já ida? E pensando em tudo isso,se sentou de novo no sofá e por um momento desejou que tudo acabasse alí,pois era demais ter que lidar com a dor não física mas psicolõgica chamada de Solidão. E mais uma vez uma lágrima lhe escorreu pelo rosto indo cair bem dentro da sua chávena de chã quente,a única coisa quente naquela sala escura. Sorveu um pouco,como tentando aquecer a fria tristeza e quase se engasgou quando ouviu o som da sua velha campainha tocar.Mas quem poderia ser? Tirando o homem da companhia da luz de dia,não havia mais ninguém que ela se lembrasse.Com receio dirigiu se á porta pensando já em ondas d assalto e amaldiçoando nunca ter posto o olho mágico na porta de entrada que neste momento lhe parecia ser feita de papelão.Chegou se á porta e perguntou: Quem está ai? Mas não obteve nenhuma resposta,e o único som que ouviu foi o toque da sua campainha pela segunda vez,e estremeceu indecisa pois o medo junta a curiosidade provocada pelos anos a fio de solidão a impelia a abrir. Com uma voz trémula disse ainda sem abrir a porta: vou já avisando que meu marido está aqui comigo.Mas nada igual,e ela mais receosa que decidida,rodou a chave na fechadura e espreitou pela frincha da porta semi aberta e quase caiu de susto quando viu um ramo de flores na sua direção e a voz familiar embora mais madura de seu filho acompanhado pela pessoa que ela reconheceu nas fotos a ela enviadas como sendo a mulher do seu filho.O coração tremeu lhe,a voz falhou lhe e uma lágrima,mas esta agora de alegria caiu quando ouviu ainda incrédula da boca do seu filho: Feliz Natal, mãe...