(Não ficcionado)
Um dias antes do Natal, Maria Helena contactou-me por via electrónica dizendo que gostava muito de adquirir o meu último livro, mas que o não encontrava em nenhuma livraria do Porto.
Respondi-lhe que me fosse dada uma direcção postal para que eu o fizesse chegar pelo correio, a título de oferta. Respondeu-me que agradecia o envio, mas que queria pagar o livro. Eu insisti dizendo que era oferta minha e que o faria chegar a sua casa sem qualquer custo para ela, até porque teria muito em fazê-lo, sabendo-a uma fiel admiradora do que escrevo. Ela, intransigente, insistia que o queria pagar e que lhe fosse dito qual importância teria que enviar na volta da recepção do livro. Sugeri-lhe então que no Dia de Natal oferecesse 10 euros ao primeiro sem abrigo que encontrasse na rua e esse, sim, seria pagamento a preço d’Ouro do meu livro.
No dia 26 (hoje), escreveu-me, pela mesma via electrónica, estas palavras que irei reproduzir ipsis verbis:
“Boa tarde. Cumpri o prometido. Já estão entregues os dez euros a um sem abrigo.
Vou contar como foi:
Uma minha irmã foi a uma pastelaria no Porto comprar umas coisas para trazer para minha casa, ontem (dia de Natal). Quando cá chegou deu por ela que não tinha o telefone. Telefonou para a pastelaria e disseram-lhe que lá não estava nada. Então a minha filha lembrou-se de falar para o telefone da tia. Atendeu um senhor com um sotaque de africano. Tinha encontrado um telefone no passeio em frente à pastelaria e disse para irem ter com ele que ele o entregava.
A minha filha, que sabia do nosso contacto, disse-me: mãe dá-me os dez euros que já ficam entregues.
Assim foi, quando lá chegou, era um senhor com aspecto de muita necessidade, que lhe entregou o telefone e a quem foram estregues os 10 euros.
Peço desculpa, fui operada a uma catarata e ainda me custa um pouco ler, pelo que só daqui a uns dias voltarei a partilhar os seus poemas.
Um abraço e mais uma vez muito obrigado.”
Digo eu agora: que gratificante foi para mim saber que os 10 euros do meu livro de poesia serviram, no Dia de Natal, para um filho honesto e desprotegido do mesmo Deus!
João Luís Dias