Para trás não olharei: falo assim como poeta que tenta trilhar definidores caminhos e verdades desta Terra.
E minhas sandálias serão como tesouras afiadas no
[manto de minha tristeza.
Para trás não olharei,
e a minha ternura repousará na úmida relva o silêncio
[oco dos cântaros.
Assim aguardarei o orvalho, serei um encontro amoroso
[com a chuva.
E o sangue de minha inconsolável saudade ficará pelos
[caminhos,
lá, onde as eras imensas se esquivam às perguntas da
[mente.
Estenderei, todavia, as fronteiras de minha vida para os
[planetas distantes
e, sob o canto dos pássaros e a divagante palidez dos
[antanhos, ela amanhecerá
meu ser entre os espinhos e as flores do que eu tentei e
[tento
sonhar e pensar como poema a favor de desalienações
[na história humana.
Moacyr Félix, In: Introdução a Escombros, Poema III, Ed. Bertrand Brasil, 1998, p. 120-121.
Imagem: René Magritte - The Glass House.