Quero sim, um sonho, uma fantasia
Mas que me dêem, pelo menos, alegria
Que não falte o carinho na mesa da criança
Que, por nada, matem o pai da criança, nem a criança
Que a cama do Pai não seja de palha
Que ao quebrar meu papai Noel de cristal
Os cacos se transformem em sonhos de diamantes
Milhares, tantas quantas são as crianças e seus sonhos
Que os fornos assem os pães, não a infância
Que os povos se unam e busquem novos ninhos
Que o massacre seja de amor e de tolerância
Que o canhão leve a flor, não seja um vaso de dor
Que o cristal seja mais fé, mais crença de um puro ser
Pedaços se ponham nos pratos, de quem não sabe o que é ter
Que a coragem não falte, onde necessário for, vá com fé
Mas não quebrem meu papai Noel de cristal. Ele é a fonte
Por dura que seja a pedra, ela pensa, respira e segura o vento
Por longa que seja a estrada, ela te leva, basta saber pra onde
Por longa e afiada a espada, ela não corta, nem sangra o ideal
Nem mesmo os ideais ferozes, cegos, malditos, loucos e insensatos
Cuide bem, meu papai Noel de Cristal, dos loucos, de todos os loucos
Que brotaram sem sonhos, que nunca foram crianças, não sonharam,
Não importa meu papai Noel de cristal, vou quebrá-lo, por querer, vou dividir você
Em cada berço, colocar um pedacinho, quero permitir o sonho a todos.
José Veríssimo