A Noite, No Meu Quarto
A noite, no meu quarto
Olhei pra janela
E o vidro que me refletia
Fez meu olho esquerdo
Ter a lua em sua pupila
Então tive os olhos do mundo
E podia ver estrelas, cometas,
Asteroides e galaxias
Além de onde chegava
A luneta do planetário
Então me senti Deus
Mas sem a parte ruim
Porque Deus tem que
Ouvir pedidos idiotas
E levar culpas que
Não cabem a Deus
E ouvir o pranto
Dos filhos seus
Que choram muitas vezes
Por coisas que não valem
O pranto derramado
Fui o Deus da contemplação
E contemplando a dança
De asteroides e estrelas
De brilho e beleza incomuns
Senti como é bom
Ser livre e ter
Um universo só meu
E tudo era maior
Que tudo quanto havia
Sonhado em toda minha
Ínfima existência
E foi aí que vi
Minha pequenez e
Que não podia ser Deus
Eu estava no espaço
E não era onipresente
Eu não conhecia aquilo tudo
E não era onissapiente
Eu nada podia frente
Aquela imensidão
E não era onipotente
E, apesar de ter sentido
Um amor incondicional
Como se diz de Deus
Eu não o era
Eu era só eu
Eu e só
Com meus pensamentos
E o olhar unido a lua
Ambos refletidos
Na janela do meu quarto.