Tic tac, o relógio rouba meu pensamento
Jamais gostei de andar em cima da hora
Por isso autorizo a bater noite adentro
Mesmo que meu nobre sono vá embora.
Tornei-me escravo do meu próprio tempo
Todas as noites, é interminável anáfora
Uso esta duração, fito a trinca de ponteiros
Exercendo cronometricamente, a vil função.
Percebi que sincronizados são certeiros
Na maratona, o grande parece aguilhão
Comprido, dobra voltas nos seus parceiros.
O pequeno em derradeiro, quanta lentidão!
La vão eles, sem revezamento e descanso
O grande adiantou-se, avançando segundos
O pequeno disse : qualquer dia eu te alcanço
Tem no coração ressentimentos profundos
O médio retrucou: vejam ! Nunca me canso
Estou acostumado, sigo todos os rotundos
Mais devaneios sem tarja preta , só agonia.
Pela janela adentra os primeiros raios do sol
Lá fora os pássaros já gorjeiam em sinfonia
Aqui dentro relutante, abandono meu lençol
Vivo em estado de embriaguez em pleno dia
Me revigoro passeando no jardim do labaçol
As alusões concentram-se em minha mente
Retornando para casa, o reencontro, a rotina
Pressinto a noite me abraçando vorazmente
Meu nervo incontrolado libera adrenalina
O som dissílabo propaga no ar em repente
Aquele maldito tic tac , que nunca desafina...
Geremias
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