As portas de repente se abriram no hotel. Medida a extensão da catástrofe, constatou-se que não restara dente sobre dente. Infelizmente era tudo verdade. Não o vira sequer uma vez, mas isso não a impediu de correr ao redor da árvore como num incêndio, conduzida na queda por um cocheiro com libré de prata e luvas brancas correndo para destrancar a porta. Ficou na sala, usando o colante preto, um pouco excitada com o cheiro das mariposas em volta da lâmpada naquela noite fria. Ai percebeu que agora nem sempre é imediatamente para todos. Mas somente quando os sonhos não se realizaram.
Mas Sofia não esmoreceu. Toda exposição havida nas avenidas e praças não foram suficientes para que pudesse ser vista escalando edifícios de vidro vestindo um sári azul. Contudo, antes de conseguir fugir e pensar as feridas acendeu as luzes mostrando um recém-aberto vidro de vinagre de maças, com algo de pavor nos olhos, como carrapato hematófago saciado e nervoso diante do olhar do vampiro faminto.
- Quem serão e de que fábrica compram? Poderia ir do escritório para o banco e não me preocupar em pensar que vão desaparecer para sempre. Os bondes, os anéis, os guindastes e a fina camada de gelo sobre o polo...” Disse, olhando fixamente olhando para a peça.
Mantinha o semblante aberto, olhar fixo no oceano como se mendigando um prato de escamas. Amassou a lata de patê no cinzeiro inclinando-se para melhor ver o filme, murmurando para si mesmo:
- “ Afinal, para mim não importa! O que pode querer fazer com os caroços?”
Os mesmo tempo em que as dez linhas pretas em uníssono tom passaram a reclamar de uma dor de lado, a décima segunda badalada do antigo carrilhão barroco soou como lamina da guilhotina despencando sobre o nobre pescoço de Maria Antonieta. E foi só o que se sucedeu naquela noite. Devagar, saiu dali. De óculos, capa chuva sobre o taier cinzento, afastava-se sem olhar para os sem teto uivando como as górgonas da fachada da catedral de Notre Dame.
Desapareceu nas ondas encrespadas, passo ante passo, cadenciado, lentamente como se consolando uma árvore depois do amadurecimento e queda dos frutos, enquanto perto dali, sob um céu roxo, uma serpente picava o calcanhar dos passantes descalços. E Sofia ainda achava que somente a malária provocava os piores delírios