<br />Zefa, Ana , Maria, Sebastiana, Paola, não importa o nome do personagem desta crônica, estarei aqui retratando a mulher afrodescedente, pobre da periféria.
Acorda ainda sonolenta e num salto, pula da cama, dirige até aos seus quatros filhos que dormem em um mesmo lugar, todos encolhidos para caber na cama, apesar de penalizada os acorda, ainda são cinco horas em uma linda manhã de verão na cidade de Salvador, onde o Sol se prodigaliza entre as frestas da janela no primeiro dia de Carnaval!
Requenta o café, pois já estava pronto de véspera (era preciso ganhar tempo) e com pressa pega os filhos e saia, tranca a porta e percorre à pé, algumas ruas empoeiradas, entre casas com paredes desbotadas e roscas, saindo e entrando em becos escuros e subindo escadas.
Ufa! chegamos, exclama ela, após duas horas , arrastando as crianças bastante cansadas,porém apesar de tudo, estavam radiantes, também não é todos os dias que há Carnaval em Salvador “ a maior festa de participação popular do mundo”. E lá estava a sua mãe entregou-lhe as crianças e mais que depressa saiu, que nem sequer se despediu, iria percorrer a mesma distância de volta para casa.
Levou pouco tempo para se vestir, era um abadá bem colorido juntamente com um boné para protegê-la do Sol. Nota-se que a sua vida é dura e ainda teria tempo para lazer?
Parou pensativa, mais logo depois sorriu, ela iria atrás do trio elétrico e brincar com as estrelas como: Ivete Sangalo, Daniela Mercury e os irreverantes como Carlinhos Durval Lelis e outros cantores que fazem a festa do Carnaval soterapolitano.
Chegou na avenida, olhou sorridente, lá estava o seu bloco, entrou, colocou as luvas para proteger as mãos, segurou a corda e com a outra mão um pacote de biscoito recheado com uma pequena garrafa de refrigerante, ela era cordeira, e iria receber R$ 20,00 por cada dia de trabalho, com uma grande responsabilidade, estaria ali para proteger e dar segurança a uma elite.
Ela é mais uma que faz parte da população de Salvador excluida da maior festa “popular”, porém o que se observa é o povo atrás dos bastidores, contribuindo para a beleza da festa espremidos pelas corda ou empurrando-a, alguns com caixa de isopor para comercializar cervejas, enquanto uma outra parcela cata latas de alumínios para vender ou reciclar.
Este é o Carnaval, da tão conhecida “terra do Axé”, o que existe na realidade é uma festa de segregação sócio racial, onde a desigualdade se encontram nos blocos, nos camarotes. A festa passa a ser privada, um Carnaval antidemocrático, transformado em uma festa de domínio econômico.
Portanto, estamos diante de uma festa onde há muros invisíveis do “apartheid”, onde as corda dos blocos separam e excluem o povo baiano.
Valentina Luzia de Jesus