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Sofia afinal revela onde conheceu o amor

 

Abertas as portas, viu-se que pouca também era a influência da chuva fina no derretimento da calota polar. Mesmo assim, chamou o garçom à moda antiga, estalando os dedos com indescritível habilidade e rapidez. Rompendo o sepulcral silêncio que tomava conta do edifício, girou a chave destravando o ferrolho provocando rápidos movimentos nas cascas de tinta da parede. Exclamou:

" - O pianista bem sabia que um fim de semana não deixava marcas mais que as de batom na gola da camisa. Quase atingiu o robisão de tuíde, inestimável presente da minha tia avó, já falecida. Verdade seja dita, sabia à naftalina para tristeza das traças plantonistas no meu guarda roupa, mas era o que de melhor havia no menu."

Viu-se de repente em pleno salão de banquetes de palácio indiano. Perto dali, um pátio com mirabolante jardim de onde um flamingo vesgo contemplava as açucenas flutuando na lagoa artificial. Procurava alevinos com certeza. Mas, prejudicado pela difração mais de uma vez via diante de seus rosados olhos o feixe luminoso incidir sobre um peixinho atravessando-o como arpão recompondo-se mais adiante permitindo ao indivíduo escamoso inflar as brânquias e acionar nadadeiras peitorais deixando o local emitindo colunas de bolinhas pelas guelras.

Toda essa movimentação acabou por despertar preguiça e cobiça maiores que o sentimento do dever. Estrepou-se escaldando a língua visto que não perguntou para a mãe se estava quente antes de comer. Mentalmente conjecturou Grimaldi:

" - Mas, tudo bem! O importante é que pode voar longe das batatas fritas sem precisar passar vergonha debaixo da cama. "

Sim, por que as ervas daninhas medraram de tal sorte que já formavam alcatifas sobre os bulbos lanceolados emergentes que estavam em pleno verão. De tal forma aterrorizado, não olhou para trás. Poderia ir para o asilo sem pensar coisas tristes sobre o passado. Percebeu Sofia imóvel na cadeira. Subjugado pelo silêncio apenas olhou para os joelhos bem torneados sobressaindo-se abaixo do taieur cinza da moça.

" - Estavam tenros os aspargos. Não obstante haver no canteiro tantos inços, não pude deixar de pensar na vergonha que passei quando minha mãe olhou para trás", disparou Grimaldi somente para testar a reação dela.

" - Não foi bem assim, mas não olhe para suas amantes agora! Concordo que a corda era fraca e o fracasso foi enorme. O vidro já estava quebrado, tenha certeza", observou Sofia com propriedade.

Grimaldi não interrompeu a caminhada enquanto respondia:
" - Tudo isso eu posso ser. Percebeu que enquanto caminhamos os renques de palmeiras imperiais ficam imaginando como seria morar nas montanhas? Bem sabe que é importante empilhar os tijolos para uma perfeita confecção dessa camiseta."

Parada à sua frente Sofia resfolegava como locomotiva a vapor chegando numa estação. Respirava quase nos ouvidos de Grimaldi, agarrada ao seu pescoço. Entre um e outro salto, finalizou:

" - Olhe os pequenos! Qual será o coletivo que passa nesta parada?"

Ambos continuaram caminhando até sumirem na perspectiva da entrada. Ao fundo a relva verde contrastava com o gradil de madeira defronte aquela casa. Pequenina casa onde um dia, nasceu o amor entre ela e Grimaldi. E mais não aconteceu naquela tarde, restando esmaecidas as figuras entusiasmadas dos coqueiros que a ladeavam. Entre suspiros, apenas as frondes recheadas de titica de jandaias, olhavam saudosas para os carros pipa percorrendo a pista.





 
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FilamposKanoziro
 
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