<br />ELES COMEM AZUIS
Cavaleiros de distantes terras
a viajar por infinitas estradas.
Entradas de estrelas e brilhos
percorrem caminhos tão claros
sempre repletos de fome
(Azuis comem e seguem,
deixando restos de escuros:
sobras de tons acinzentados.
Sim, eles comem azuis.)
Pregam pratas palavras
em púrpuras esperanças,
promessas e abastanças,
abastados fidalgos amantes
transportam na garupa de seus corcéis
elegantes senhoras
(De fomes iguais comem
de fomes a mais
de bela estética compõem-se:
trazem nos alforjes tratados canônicos
de idôneos autores —
e falam da ética com a mesma elegância
com que cuidam a fonética).
Comem azuis
certos de que o mal não lhes entra
o coração repleto de tons.
Falam palavras azuis:
Belos altruístas, performistas,
artistas de refinadas retóricas,
Teóricos clérigos carregam verdades
(E comem azuis...)
Afinados ouvidos em cristais, diapasão,
ouvem atentos ao que lhes sopra o vento...
Atentos... Sempre atentos...
Ouvem e apregoam, proféticos,
o sopro supremo e extremo
da chegança liberdade,
sempre a favor (sem dor ou clamor).
Elegantes, sempre, em seus corcéis
(Sob seus galopes ávidos estão
aqueles que azul não têm.
Sobram-lhes migalhas fartas
daquele escuro deixado caído ou tombado
por descaso ou larga cortesia
das benfazejas senhoras
que, prenhes, estão de azul).
E a terra. Ah! a terra que não se encerra
encharca-se de verde e musgos
e limos e lamas dos restos
e restos de sobras e sombras
gestando no seio, esteio do peito,
da carne que se avermelha em barro.
O lírico alvo (delirante meta)
completa ode como encanto
sem engano ou desencontro.
Sopra vento forte de escuros:
Azul não brilha (prata esfria)
onde luz não há:
Brotará refulgente, urgente,
Vermelhos reflexos iguais.