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deslumbram-me os luzeiros que espalhaste pelas tuas ilhas
clarões enfileirados saltitando no mar longínquo
espontâneos
possivelmente órficos como alguns anjos sem asas
sem nexo
[para que servem perguntar-te-ei?]
tudo se passa
como me pediste
e não tenho como salvar-me de ti
à deriva
enquanto um silêncio ocasional trespassa em
desassossego a brancura dos lençóis que antes
queimavam
abrasavam envolvidos por um trópico desconhecido.
Poderia reconhecer os continentes
[ou os mares e marés]
esses nossos caminhos
pelos ventos a cada hora
pelas enseadas noturnas a teu lado
no entanto
tenho dentro de mim as pressas em partir
as palavras infernais invernais
nestes mistos desabridos ilusórios
diáspora velocidade
chuva sol
a vida continua oca
.e sempre ao longe a tocar horizonte um barco a arder que se esconde teatral
talvez se deixe afagar
animal dócil.
Fica-me a miragem algures
revelada pela nudez da maresia intensa
exterior
lustral
ainda tantos anos depois
solta
livre.
O outro que sobrevive sai porta fora.
(Ricardo Pocinho)
Apenas um texto que tinha mesmo de partilhar
Ser um grande Poeta
“Ser um grande poeta
morto e nacional
é atrair as moscas
como idiotas e
os idiotas como
moscas.
Ser um poeta medíocre
vivo e universal
é atrair os catedráticos
da literatura como
idiotas e moscas.
Ser um poeta apenas
nem vivo nem morto
ou nacional ou universal
é atrair apenas os poetas
como moscas idiotas.
Moralidade: não há saída.”
(“Visão Perpétua”, 1982, Jorge de Sena)