"Na terra do inverno um momento é como uma eternidade,
Se armou pra mim como as patas de um gatinho.
Aqui na fonte de histórias que eu vivo,
Onde o violino da saudade infinita
Pinta sua melodia eterna
Despertando a terra com sua canção."
Chamavam-lhe Inverno Mágico...
(porque era nesta estação que tudo acontecia)
Era uma criança como tantas outras. Tinha nascido numa casa farta, onde a dispensa estava cheia, mas aonde os afectos ficavam perto dos degraus da escada que davam para a rua. Tinha uns olhos meigos, castanhos, com um cabelo meio apincelado de loiro. Deixava sorrisos nas velhotas vizinhas, que quando o viam, apertavam-lhe as bochechas, ofereciam-lhe os mimos que toda a criança gosta. Gostava de brincar no meio da floresta, onde era rei e senhor de um exército formado por astes de mimosas e ramos de castanheiros. Construía castelos, defendia os necessitados, tudo naquele espaço de encantar. Brincava quase sempre sozinho, era de uma terra pequenina, com poucas crianças e, as que havia, eram meninas. Passava horas sozinho, mas não estava totalmente só. Dos muitos brinquedos que lhe davam para estar entretido, aquilo que mais gostava, era um pedaço de um motor manual de uma caixa mágica. Quando se cansava, sentava-se junto ao tronco de uma velha árvore, e começava a dar corda. A melodia deixava-o sereno, fechava os olhos, e ouvia e ouvia, uma e outra vez sem se cansar. Aquele menino, puro, sem maldade, lançado ao mundo, foi crescendo, foi tendo a noção de que o mundo não era afinal um mundo de encantar. Era um mundo frio, onde eram lançados para os seus meandros, almas, seres que deveriam pagar por lapsos de vidas anteriores. A caixa da música continuava a ser a almofada, o ombro, o lenço para as lágrimas, a esperança para o futuro.
as voltas que o mundo dá, as voltas que a alma vive.
afinal de contas, neste Inverno Mágico que se aproxima, como em tantos outros, a melodia estará presente.
porque afinal de contas a criança nunca cresceu e nunca viu o mundo tal como ele é
Taikatalvi
"Quanto maior a armadura, mais frágil é o ser que nela habita!"