Ela era um ser de Ar, viajante de sonhos percorridos por brisas frescas, por momentos, onde a leveza da vida, lhe transformasse os segundos em eternas lembranças à pele. Sabia como flutuar nas suas emoções, como deixar os cabelos de fogo surripiarem o oxigénio das almas que a olhavam, provocando e oferecendo o doce veneno de algo único que se sente, partilha e se tem uma vez na vida, um milagre. Ele era profundidade abissal de Águas eternas. A calma efervescente de um mar antigo, onde a fluidez da emoção é abarcada por ondas navegadas em serenidades plenas ou em tsunamis, que embatem com toda a sua natureza, na possibilidade de um combate de titãs.
Durante muito tempo, a brisa batia na tona da água, agitando pensamentos, provocando perguntas para as quais ele não arranjava respostas, Era como um perfume que se conhece mas que não nos vem à memória o sítio, o lugar, ou a pessoa que o usa. Eternidades em cima de eternidades, procurou perceber, procurou compreender, como é que um mar tão dono do seu destino, conseguia que uma aragem desconhecida lhe povoasse as ondas, com pedaços de razões, para as quais, as razões não existem.
Um dia, numa aurora de vida, sem medos, abriu-lhe o peito, mostrou-lhe a água mais pura de que era feito, a forma mais fluída, doce e verdadeira com que se podia apresentar. Eram tão distintos, tão diferentes, mas tão complementos, que não tardou em se aperceberem, que mesmo os elementos primordiais, também vivem de sonhos e quimeras. Ela desceu ao mar, embrenhou-se nas ondas, e sentiu o calor de águas que a abraçaram como se sempre fosse a sua casa. Ali, em silêncio, entre o por-do-sol e a noite estrelada que ia caindo, deixou-se embeber na magia das lendas antigas, onde, nos corais mais profundos, viviam os tesouros escondidos dos amores entre ninfas e humanos que percorriam o mares.
"Serena-te em mim, vive-te em mim, porque só assim me deixarás viver-te." - as palavras que lhe segredou ao ouvido no dia em que o milagre aconteceu.
porque há contos inacabados que precisam de um final feliz, seja numa nuvem alada ou num oceano quimérico.
"Quanto maior a armadura, mais frágil é o ser que nela habita!"