PENUMBRA DA VIOLÊNCIA
Eles dizem que os habitantes da senzala contemporânea
Não são merecedores da diafaneidade da revolta,
Mesmo quando vêem o apagar abominável de sua flama
Já tão esmaecida pela vida miseravelmente cotidiana
Como se a centelha de um arquiteto popular de casas
Não tivesse a mesma têmpera que a de um menestrel, que platéias
Arrebata, através da lírica soprada por densa flauta de fragas
Como se aquela que levanta sob o afago dissaboroso
Do céu da alvorada, para depurar os castelos urbanos,
Não se irmanasse em importância aos catadores de lixo Cibernético, que limpam as cybercidades,
Onde alguns poucos de nós habitamos mentecaptos e tão Crédulos de nossa superioridade!
Eles, pescadores de achismos e filhos do estamental egoísmo,
Pensam que, por estarem sob os holofotes da voga, merecem
Imadiato reparo pelas balas da perda que os alvejam ao sol do
Agora]
No entanto, a eles se deve dizer:
Todo dia uma digna luz da vida é apagada;
Todo dia vigas da existência são destroçadas;
Todo dia tombam mães e pais de família, curtidos de sol
[E de labuta,
Pelas mãos dos revólveres da legalização segura;
Ou perdem seus filhos para as falsas promessas do capital,
Que traz consigo o rastro bruno que desponta no lato sorriso
Do horizonte da Anti-Aurora Imperial
Portanto, cessemos definitivamente de verter os inefáveis Granizos da hipocrisia.
Se vamos chorar, choremos, então, não tão-somente por
Vaga-lumes que julgam estar no auge da sua luminescência;
Todavia, sobretudo, com o mesmo ardor pelos seus congêneres,
Que erram por aí, quase sempre ofuscados pela inexorável
Sombra da mendicância, do padecimento, da desventura
[Do anonimato que se propala, abunda!
JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA