Poemas : 

Adágio

 
<br />ADÁGIO


Pousa em meu peito
Um canto escuro qual gema:
Oculto encanto de um melro.

Fazia-se hora plena nas tardes-jardins.
Um casulo cor das sedas sequiosas,
Envoltórios falam faunas bromélias:

Voa aos passados magésticos
Singulares plurais, imagens, sabores,
Lamentos doces, ocra em sons...

Uma lágrima, eugenia furta-cor.
Sabores, pomares, manjares, ceias
Sobejam... Harpejam-me adágios.

Voa... Voa-me teus escuros,
Macios, suaves, queridos lugares.
Seduza-me vento, asas e sol:

A cor mais bela da dor, fulgor
Colore-me de aves, areias e flores;
Lugares-jades, centeal sempiterno

O tênue do peito acalanta um ninho.
Escura, cintilante gema – raro canto:
Abrigo, encanto oculto... Revogares.

Voa na tarde um melro...
 
Autor
Paulo de Carvalho
 
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