Quadras
Ai Amor, Amor, esse eterno rival
em intima pureza
que me alaga a vida de beleza
em todo o bem e todo o mal.
Admiro-a! À Vida! Tão feita de ternuras,
d'Invernos e torturas,
paraísos e infernos,
assomos, porque a somos, tão ternos.
Vida! Irrita-me não sê-la!
Sou poeta extravagante
à beira de perdê-la
por ser pássaro errante.
Já não ouso esperar ou pedir ...
Já não sei quem procurar ...
Se deva chorar ou sorrir
se deva partir ou ficar.
Para onde? E aonde iria?! ...
Caminho ainda, sulcando estradas,
subo, a pulso, aquém do dia,
nada tenho, sou pó e nada!
E que aura cintila do meu corpo?!
Ante mim, até o espanto fica e pasma,
pois vivo em corpo morto
e além da Alma!
São mornos os meus sonhos,
minhas metas - solidão e lirios -
vontades, ilusões, adornos
de um louco que vive de delírios.
Pois que o seja! Um louco!
Os outros tem o monopólio da verdade,
eu, na minha vaidade,
tenho a minha loucura! Que não é pouco!
Tortura de poeta! Vida de monge!
Por jardins e cemitérios sem norte,
triste, só, abandonado - ao longe -
ao lado do corpo tétrico da morte!
Sou eu! Passo a passo, numa vida de nevoeiro,
gosto amargo, deleitoso - amargo e doce -
manjar de versos derradeiro
que a vida desde sempre me trouxe!
E quem quero eu vencer se sou eu quem está vencido?!
Desde a hora em que nasci
fui almocreve perdido,
buscando pela vida, uma vida que perdi.
Não se trata de aceitar o meu destino!
Trata-se de o bem saber viver!
Um fado austero, doloroso e cretino
onde nada tenho que possa já perder!
E afinal aonde irei?! ...
Não sei nem quero saber ...
Aonde a vida quiser é onde chegarei,
que, aonde chegarei, já não me importa saber!
Ricardo Louro
No Café a Brasileira
ao Chiado em Lisboa
Ricardo Maria Louro