LONGEVIDADE
Aquilo que contemplo, através da televisão,
são brados de socorro:
brados ecoados por sulcos
[Sulcos concebidos, a partir, da matéria vil do sofrimento. A viver, miseravelmente, de gotículas esparsas d’água e esporádicas côdeas de pão.
Vejo aquela hoste de sulcos dispostos em renques, filas
a esperar, sob o abrigo solar,
o altruísmo abominável duma estatal hóstia ultrajantemente
Satânica, melhor, tão humanamente divina... divinamente humana]
Testemunho, com o mais profundo pesar,
estes denodados sulcos que suportaram
nas costas o sicário peso do erigir
do processo industrializatório de um agrário país;
Agora tratado como ícone do que é supra-anacrônico, do abjeto Moribundo!]
Entretanto, a televisão não quer e nem pode
penetrar no âmago dos sulcos
e, então, claramente ver
a magnitude do estrago
causado pela mordaz lâmina da natureza do desgosto.
Não, porque, se assim o fosse,
Ela perdão eternamente os rogaria... Perdão pelo ABSURDO que, afinal, não cansa de perpetrar um só dia!!!!!!
Mas não, essa humilhação não basta:
não basta para saciar o parasita.
Ele deseja que mesmo estafados e sem chance de trabalho,
os sulcos laborem até o crepúsculo da sua dura vida
[Enfim, sempre quase a morrer de fome e o pior de tudo: não tendo nem sequer um Réquiem de despedida deste aquosamente maravilhoso mundo!
Não esperava, mas sinto:
sinto o agonizar dos sulcos;
sinto o estertorar de pungência dos sulcos;
sinto o empedernir do corpo sentimental dos sulcos.
Não esperava, mas sinto:
sinto um forte desejo de morte brotar dos sulcos desta humilde gente
que trabalha.
Trabalha e sofre muito]
JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA