“ ...silente vago solene entre as sepulturas. Será esta a ultima vez que caminho só, entre os mortos calcando terra sagrada. Já que o destino aqui me trouxe, aceito a prescrição, de bom grado ficarei,os mortos estão prontos para me acolher. Não acordarei para a vida outra vez, neste horto está a minha morada. Foi o destino que me trouxe, me deixou assentado neste campo de igualdade...”
Dormem todos deste campo sem sol, meio à nevoa manente,
meio ao vento, miro rasas órbitas dos mortos nos mosaicos,
posso vê-los, todos eles, figuras como de um sonho jacente,
ao som das corujas desde as cornijas, crujares prosaicos.
Eles dormem! Atento bem como a decifrar a visão inumana,
quando a névoa paira sobre mortos de faces descarnadas,
os olhos sem luz, íris de faiança nos retratos de porcelana,
fazem esquecer o medo e execração que trago arraigadas.
É grandiosa esta paisagem, há beleza na derradeira morada;
se na escuridão sinto cortante o vento acenando pavores,
há mármores, bronzes, renda de pedra no granito entalhada,
ou mesmo ainda solitário, somente humilde vaso com flores.
Estou aqui outra vez! Não quero acordar os que aqui jazem,
pois será esta a derradeira vez que caminho entre ossadas.
O destino aqui me trouxe, respondendo o convite que fazem;
de bom grado ficarei, terei neste horto as horas assentadas.
[Foi o destino que me trouxe neste manso campo de igualdade,
os mortos sempre acolheram a quem procura pela eternidade.]
05112014
" ...descrevo sem fazer desfeita,
meu sofrer e meus amores
não preciso de receita
muito menos prescritores."