Perdi-me de mim,
Por entre o ser tudo
E o saber concreto
Que não sou nada,
Nem anseio ser nada...
Abro as janelas da alma,
Sacudo a poeira que assenta
Em cada aresta... De tão abandonada.
Qual mistério me faz cair
Na rua dos sentimentos,
Fazendo ver aos olhos quão inacessível se mantêm
As emoções.
Revejo sonhos, melhor, ruínas de sonhos
Caídos por entre o que não fui,
Não sou, nem nunca serei...
Poderei-os mesmo assim chamar de meus?
O silêncio, não contém alguma resposta,
Ecos de nada entoam nos ouvidos,
Ou será só em minha cabeça?
Nada sei, nada posso...
Perplexo me mantenho com o que desconheço
Dividido entre a lógica e a razão.
Me deparo com um cigarro na boca,
E outro preparado na mão...
Olho o fumo que não segue leis,
Dança ao som da vontade,
Crio círculos que se desfazem
Com os lamentos do vento,
E em mim me fazem crer numa estranha
Sensação de que tudo é sonho
Ou pesadelo...
Falhei em tudo e em nada
A vida não chega com
Manual de instrução...
Me revi escapar
Pela janela da alma,
Seria ilusão? E no final
Foi a alma que escapou
Por umas das minhas janelas?
Sinto-me tonto, sem sequer beber,
Cambaleio por entre dúvidas...
O que penso? Quem sou? Quem nunca fui
Ou serei... NADA!!!
Genialidade de um momento louco,
Ébrio de certezas , sóbrio de incertezas,
Estarei lúcido, ou adormecido?
Vagando qualquer sonho nem sonhado!!!
Nunca verão a luz do sol
Os meus sentimentos,
Vivem enterrados dentro
De um eu de mim perdido,
Mas....
Mais sério, instruído,
Romântico, sentimental.
Nao carrego conquistas,
Mas alguns segredos, parte
Deles os escrevo, esperança
Vã que "aqueles" olhos os leiam
Ou quiçá entendam,
Ja que são tao incompreendidos
Por todos.
Consciente que minha escrita
Carece de qualidade,
Talvez não tenha nascido para escrever,
Não tenha o dom de me expressar
Através das palavras...
Só em raros casos de loucura
Me mantive lúcido para me explicar.
Mas ainda tento!!!
Perdi-me de mim,
Não sei quem fui, quem sou,
Quem serei...
O vento que me afaga o cabelo,
Me lembra o toque de um anjo
E quando sopra seus ais,
Me devolvem à ilusão
Dos mais belos sussurros ao ouvido...
Sou escravo de sonhos,
Sou rei em todos eles,
Acordo, tudo baço,
Realizo que não sou ninguem
E tudo volta ao início,
A dúvida, a incerteza,
O meu ser indefinido...
Deixo aqui um retrato
De quem não sou, nunca fui ou serei...
Ficam aqui os versos que nunca escrevi,
Por entre as folhas vazias da razão
Onde existo apenas
Para me contradizer...
Não fui sempre assim,
O amor partiu-me o coração...
Logo a mim que tanto amei.
Hoje invejo quem não ama,
Quem não sofre, quem não sente
Só por serem diversos de mim.
Fiz o que pude
Para ser feliz,
Não resultou... Erro meu?
Talvez
Só sei que mudei tanto,
Que hoje não sei quem sou,
Quem fui, quem serei...
O vagão do destino
que entrei era o errado.
Notei de início, mas deixei-me levar
Pensando que voltaria a mim um dia,
Nem reparei que tirei só bilhete de ida,
E não existe mais bilhete de volta.
Essência precária de versos inúteis,
Que escrevo, com a tinta da dor,
Não alcanço ninguém pelo caminho,
Sigo só me abraço à solidão,
Deve ser melhor que nada..
Enquanto isso, tento decifrar
Quem sou, fui ou serei...
Paulo Alves