Hoje pela manhã, quando abri os olhos, veio-me clara na cabeça a frase com que comecei o seu soneto: “Coloca sobre mim o teu olhar profundo”. E pude realmente senti-lo cintilante em meu quarto, na penumbra que permeava tudo. Sua silhueta bem definida e um começo de sorriso nos lábios envolviam em tranqüilidade o meu princípio de manhã.
Depois, quando sua mão tocou suavemente meu rosto, veio a segunda frase: “E põe em minha face tua mão serena”. Comecei a repetí-las lentamente, observando a métrica e onde estavam as sílabas poéticas de apoio. Fui dando ritmo a elas e vi que mereciam uma resposta para fechar a primeira quadra.
Veio-me a terceira frase: “Pois só dessa forma tem sentido meu mundo”.
Podia mesmo senti-la ao meu lado, sua mão acariciando meus cabelos. Olhei para você e recebi um lindo sorriso como sinal de aprovação.
“E a vida, só por teu sorriso, vale a pena”. A quarta frase veio como resposta ao seu ato.
Se verdadeiramente o amor tem sido um sentimento libertador e tem vindo, através dos tempos, como a busca maior de todo ser vivente, pensei ser conveniente colocar na próxima quadra, frases que falassem desse sentimento. As duas primeiras da segunda quadra vieram juntas: “Se a pena que te escreve cálido soneto” e em seguida: “Expressa todo sentimento verdadeiro”.
A penumbra do quarto começava a se desfazer, dando lugar aos primeiros raios de sol da manhã. Levantei-me apressado e entrei para o banho. Deixei-a em minha cama, adormecida, como a última imagem daquele sonho.
No chuveiro, enquanto a espuma escorria pelo meu corpo, comecei a pensar na velocidade do tempo que, inexoravelmente, nos arrasta a todos e me veio a clara certeza de que precisava fazer esse amor estar em minha vida. Precisava, sinceramente, conviver com ele.
“Não é justo o tempo tornar-me obsoleto”.
Resolvi que escreveria mesmo o soneto e que falaria de você a todos que conviviam comigo.
“Por isso grito agora, alto, ao mundo inteiro”. As frases continuavam pausadas e com essa última, acabei concluindo a segunda quadra. Faltavam agora os tercetos e foi enxugando o corpo que tive a idéia de neles me declarar a você.
Bom. As declarações, vez ou outra, costumam soar de forma piegas, carregadas de sentimentalismos fugazes, mas não deixei que isso desmanchasse as minhas idéias, que continuavam vindo como num turbilhão.
“Amo-te desenfreada e intensamente”
E ainda...
“Amo-te de uma forma linda e inesperada”
E fechando o primeiro terceto:
“Amo-te assim, de inexplicável maneira”
O último terceto me veio inteiro. Corri, me assentei de frente ao computador, coloquei o seu endereço no e-mail e digitei o seu soneto, que horas depois você leria com surpresa:
Paixão Imensurada
Coloca sobre mim o teu olhar profundo
E põe em minha face tua mão serena.
Pois só dessa forma tem sentido o meu mundo
E a vida, só por teu sorriso, vale a pena.
Se a pena que te escreve cálido soneto,
Expressa todo sentimento verdadeiro;
Não é justo, o tempo, tornar-me obsoleto,
Por isso grito agora, alto, ao mundo inteiro:
Amo-te desenfreada e intensamente,
Amo-te de uma forma linda e inesperada
Amo-te assim, de inexplicável maneira.
Gostaria de tê-la e amá-la eternamente,
Sob o signo de uma paixão imensurada;
E trazer comigo o amor; pela vida inteira.
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Beijos de quem muito te adora!