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De um lado anjos,
demônios
e espíritos de personagens
que crio.
Do outro lado do rio,
as patifarias
caras
aos poetas:
Corações túrgidos,
saudades obesas,
desejos raquíticos
e uma bandalheira
de existencialismos.
- "Poeta, sou isso
e aquilo
e me vejo Ésquilo
no espelho".
Ouço essas verdades,
na canoa-pena
por onde flutuo
no rio que vai o meio.
Ao meio dessas margens
de temas de versos,
que são raízes de árvores-poemas
inscrustadas na borda
do rio
da minha inspiração.
O rio é saliva, choro
e seiva da musa
de pernas abertas
na cachoeira do que penso
ser fim
desse rio de vida
que desaguará no decorrer
de minha partida
dentro da vagina da musa,
embebecida.
- "Parta agora!" - gritam
sátiros e demônios,
a tirarem a roupa dos anjos
para a tertúlia lascíva
que costumam praticar na banda de lá.
- "Pule já dessa canoa,
essa vida não é boa.
Escreva um verso de matar
venha, para sempre, conosco gozar!"
A musa soluça um peixe
que pula a canoa,
perdido entre suas próprias bandas.
É só uma caveira de peixe.
- "O poeta pensa na morte,
mas também no corte
da sensação,
o sentir a vida, mesmo que torta,
mesmo ferida,
os olhos de quem amará,
sempre os olhos, as janelas
e certamente, o suspirar..."
Ninfas e ninfos mostravam
seus dedos macios
para fazer-me cafuné.
Indicavam a grama
como a nossa cama,
num jardim de todos os frutos.
- "Não sejas bruto!
Escrevas um verso de fé,
e esteja sempre de pé
esperando o amor chegar".
A musa dá um riso alto.
Um raio corta o céu.
Olho pra cima,
talvez acima, há outra banda!
Nem de lá, de cá
nem na canoa.
E ao tempo que penso
na saída,
vem alado, com asas negras,
um verso soprado
da boca do Phenex -
um assovio que calou
até o trovão.
O peixe caveira tomou vida,
criou patas,
pés e mãos.
Saiu andando
por uma das bandas
(qual delas, não digo, não).
Eu, pego na ponta do
assovio,
saio carregado, suspenso
e o rio
o tempo,
a vida,
esperam eu retornar.
Quando eu pegar a pena,
subir à canoa,
e ter de navegar...
lá estarão,
todos eles,
à margem de mim,
a gritar.
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