Volátil
Resta só mais um dia triste,
os outros virão mais alicerçados
e acaso me esqueça
ainda me resta um pouco de vigor
pra seguir esta redenção plena de fulgor
avisem-me por onde devo eu seguir
porque nestes caminhos traçados
inocentes e esmiuçados à tangente
prescrevo a retórica delimitada
nos ecos e sussurros da voz
quase rechaçados no tempo
onde me perco neles
em reflexos corroborados em cada gesto teu
Sabes,
está aí a chegar o inverno
e derrama-se pela minha cidade
os mesmos problemas já fadados
deste tempo tão moderno
subalterno e transversal
ao trânsito que se esvai nas
artérias desta vida entupida
às vezes magistralmente penosa
cheia de paralelismos e estrofes
intemporais
e rusgas pela mentira
em detrimento da verdade
Estejamos pois cientes
que no exacto momento
faça sol ou chuva
cerraremos as portas ao dia
tão sarcástico como a solidão
que me impregna cada lágrima
assim derramada
e velada no protagonismo
que a vida tece a cada metamorfose
Resta assim tudo
como assim tudo nasce e morre no Outono
a cada passo onde me abrigo
do gélido Inverno que me consome monótono
e a caridade até já deixou
de ser uma rotina
perdida no orçamento da vida
pois assim se constrói
o meu subúrbio ordenado
pelo casario fragmentado
entre as colinas solitárias
onde por fim se funde este poema
tão decepcionado e inútil
embargado agora no meu silêncio
quase, quase, espoliado e tão volátil
FF