Poemas : 

Notívago

 
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O dia ensolarado
abre a vidraça.
Acaba a graça do sono
sem os afagos de lua.
A mãe abandona
e o pai cuida,
porém, mais áspero,
mais seco,
mais dia.
O dia irrompe
meus delírios de continuidade.
O fluxo é visível
somente à luz do sol.
A noite é sempre terna,
eterna,
felina e parda
para toda gente,
sobretudo aos poetas -
que se deitam,
depois do sexo com a poesia
e os derramamentos
das seivas que a poesia exige,
depois dos tropeços
e levantes,
depois de todos os risos
e bater de copos
e de dentes,
depois de tanta lua...
Deitam-se,
e ao dormirem,
pensam secretamente
na morte.
Não aquela derradeira,
a tal caveira
matreira
que hora ou outra há de chegar
com a foice.
Foi-se este medo.
É imaginação de morte, sem medo.
É imaginação de morte, sem morte,
é só ensaio da imaginação.
É que o poeta ao despertar
do dia,
sente saudade - que aperta -
da noite de alegrias fugidias
e passadas.
O poeta tem medo da poesia
ficar desgastada,
estagnada na parede da memória,
tornar-se um quadro pendurado lá
mas que ninguém olha.
O poeta teme
o distanciamento
das musas
que são em sua maioria,
noturnas.
O que move o poeta
depois da chegada do sol
é manter-se desperto
com o rosto perto do tempo
esperando a outra noite chegar.
Quando escreve ao dia,
o poeta,
não faz mais que recordar,
ter saudades da noite,
pra onde espera voltar.
Antes do sol,
ainda antes da morte sem morte
da noite,
o sono vem com um cantar:
- Amanhã, outra noite será,
da mais pura alegria
que se possa imaginar.

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Autor
thiagodebarros
 
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