Os olhos negros de Emab
já não choram. Estão secos.
Secos os olhos, os seios,
os corpos e os campos.
Secos, como a oliveira
que do antigo terraço
assistiu a chegada de cada uma
das mil e uma noites.
Secos, como são os homens
que metralham a esperança
e bombardeiam a inocência.
Foi-se o sândalo e a mirra evaporou inútil,
pois eis que o cheiro é só o cheiro da morte,
que compartilha o tempo da vida.
Calaram-se os mercadores
e tornaram-se imóveis estátuas
as mulheres que dançavam
desde a noite dos tempos.
Noites que já foram mil
e que agora nem se contam.
O relâmpago da bomba assassina
pari breves dias instantâneos,
e ruge a eterna ciranda
da fúnebre fome
de perpétua demanda.
Aos povos que sofrem o flagelo das guerras dos homens.
Lettré, l´art et la Culture - Rio de Janeiro, Primavera de 2014.