Ousadia...
Já deixei de contar
o meu alfabeto dos dias,
no rigôr moribundo
em que me retrato neste rascunho
embrulhado no derradeiro suspiro do céu
que enche e máscara as horas pautadas
no calendário dos meses infinitos
e semanas que passam prostradas
no anonimado
ainda que desleixado saúdo-te
e não mais pranteio o sentimento
que invade meu peito
sigo apenas rumo à plenitude sinfónica
onde o mar ruge com fiel firmeza
Sei que ainda cantarei breves
sonetos só para ti
e mesmo que não saibas
o que eu sei
não deixarei de escrever
o que sei
um poema com letras adormecidas
no teu ser
pois sei
que com rimas provadas de mel
romperei chamejante
a colmeia romântica do teu olhar
a não ser
que me atrases o tempo
e insinues como se amam afinal
as vogais retidas nas parábolas
ou no silêncio das minhas preces semânticas
E este
é somente o momento
em que me escondo
por fim
no regaço da minha tranquilidade
sem miragens
ou recordações legítimas por descobrir
apenas darei a cada ausência,
uma réstia de mais um dia
que irredutível se distrai fugídio
mendigando na poeira dos astros iluminados
uma réstia mais de luz matinal
que pousará no horizonte
sereno e esmaecido pela
subtileza cativa na eloquência de um eco
que se perde nas minhas fiéis ilustrações
esculpidas sem alaridos
nas notas tímidas desta melodia
sonâmbola e empoleirada
na minha mais que provável
ousadia tão conivente e exuberante
FF