Os sorrisos caiam no chão do desassossego
E eram calcados pelas sombras do medo,
Caminhavam vozes pelo silêncio do vazio,
Acotovelando-se nas brisas do céu sombrio.
Pulavam em pés descalços do infortúnio,
Acutilando-se nas agudas pedras da raiva,
Cobertas pelas núvens negras de mau augúrio
E as chuvas gélidas mordiam como saraiva.
Buzinas e sons alucinantes ensurdecem
ouvidos moucos, comidos pela fome e frio,
corpos torturados pelas dores que padecem,
chão sem alvoradas,de cartão negro, doentio.
Gritavam com suas vozes caladas pela noite,
na escuridão da tristeza e injustiça da vida,
o eco trazia-lhes o som implacável do açoite,
que a ferida da alma, tão profunda, não sentia.
Os crepúsculos eram como tardes apagadas,
que lhes penetrava a essência humana,
vagabundos da miséria de sortes recusadas
a quem a vida lhes tem sido tão tirana.
José Carlos Moutinho