Crónicas : 

O TRABALHO É ESSENCIAL EM MINHA VIDA

 
Open in new window


O TRABALHO É ESSENCIAL EM MINHA VIDA

Comecei a trabalhar quando tinha 19 anos. Apaixonei-me pelo fato de ter meu proprio dinheiro, de poder comprar o que quisesse. Aquela liberdade me fascinou!
Meu primeiro emprego foi no CTA em S.Jose dos Campos, no P.M.R. (Pesquisa de Materiais Raros). Entrei como Datilografa. Meu avo paterno quem me ajudou a encontrar esse emprego.

E daquele tempo para ca, nunca mais parei. Trabalhei na Sociedade Construtora Aeronautica Neiva (hoje parte da Embraer), Ericsson (onde trabalhei com tres suecos), na Johnson&Johnson, e finalmente na Bristol Myers Squibb, em Sao Paulo.

Mas quero contar aqui uma passagem da Johnson, muito engracada. Eu trabalhava no Planejamento de Producao. Entao, sempre faziamos festinhas de aniversario para o pessoal. Um dia, no aniversario de um deles, encomendamos empadinhas. Entao la fui eu e o Alencar buscar as empadinhas.
Aquele dia chovia muito. Descemos na casa da mulher que encomendamos as empadinhas, e ao levar para o carro, na hora de entrar, metade das empadinhas cairam no chao (na lama mesmo). O Alencar e eu ficamos desesperados. Todo mundo estava esperando as famosas empadinhas da d. Herta! Nos abaixamos e comecamos a limpar as empadinhas. Uma por uma. (hahahahaha! foi muito engracado). Nos riamos de chorar. Colocamos tudo no lugar, e chegamos na festa.
Nos nao comemos (risos). Enquanto todos comiam, o Alencar e eu trocavamos olhares hilarios...
No outro dia contamos para o pessoal e eles nao acreditaram que fizemos isso.

Quando meu marido mudou para S.Paulo, (1985) em um novo emprego, ele mudou primeiro, e fiquei na Johnson em Sao Jose dos Campos. E comecei tentar arrumar um emprego em Sao Paulo.
Tantas idas e vindas, entrevistas, frustracoes. Ate que fui entrevistada pelo Diretor de Materiais da Squibb.

A entrevista foi marcada na sua casa, em Sao Paulo. Quando entrei no predio, no elevador, ja vi que o nivel dele era altissimo.
Era um apartamento por andar. Abriu-se a porta do elevador, e la estava a minha espera uma empregada toda vestida de branco.
Entrei em um dos apartamentos mais bonitos que ja vi. Uma decoracao maravilhosa, cheia de tapetes persas, objetos de arte.
Meu primeiro pensamento foi: "O que estou fazendo aqui?".
Logo veio o Sr. Martits, muito bem vestido, educadissimo. Sentamos para conversar e ele seguiu meu Curriculum perguntando uma serie de coisas. Entao comecou a falar Ingles. Naquele tempo eu "achava" que falava, mas ate que consegui ser fluente e responder a todas suas perguntas, depois de ter terminado a escola de Ingles FISK, e a Cultura Inglesa...
A empregada trouxe cafezinho, tudo chiquerrimo. Uma mesa de vidro perto da janela, cheia de samambaias. Parecia filme de cinema. (risos).
No fim da entrevista ele disse assim para mim:"Olha...voce nao esta preparada ainda para ser uma Secretaria de Diretoria. Mas eu vou apostar em voce. E vou treina-la, e passar em voce um verniz".
Verniz? Eu? Na hora me senti uma mesa.
Ate hoje meu marido brinca dizendo: "Bem que o Sr. Martits falava que voce precisava de uma camadinha de verniz". Risos.
Foi uma experiencia realmente gratificante. Foi uma epoca que muito marcou minha vida. Aprendi muito, cresci muito, e realmente fiquei mais "envernizada".

Quando vim para os EUA eu nao podia trabalhar, pois somente meu marido tinha o Green Card.
Ficava em casa assistindo novela e escrevendo termos que nao conhecia. Escutava fitas, e nessa epoca me tornei uma eximia dona de casa (quem diria!).
Ate que resolvi fazer o "ESL" (English as a Second Language) a noite. Meu marido ficava com minha filha, e la ia eu. Essa foi uma epoca maravilhosa, onde conheci pessoas incriveis de outros paises.
E tive como minha melhor amiga, minha professora, Joanne.

Vivemos 4 anos em Detroit e nao pude trabalhar. Quando meu marido foi promovido e fomos transferidos para Cincinnati, tive entao o meu Green Card, e com isso a oportunidade de trabalhar.
Rapidamente fui nas Agencias Temporarias. Achei que seria um bom modo de comecar a conhecer o modo do americano trabalhar.

Meu primeiro emprego foi num Escritorio Financeiro, finerrimo! Eu ia de terninho, salto alto, toda executiva, e somente tirava copias de documentos das 8 as 5 (risos). Mas nao deixou de ser uma boa experiencia.

Depois disso, trabalhei na Procter & Gamble, e outras empresas, (com trabalhos no computador) ate que fui parar na Eagle Services, uma Empresa Construtora e Eletrica. La fiquei dez anos e so sai porque a Empresa fechou. La eu fui na acepcao da palavra, Assistente Administrativa. Fazia trabalho para todo o escritorio (Presidente, Vice-Presidente, 3 Gerentes, e 4 Supervisores). Foi o tempo melhor da minha vida.

Hoje trabalho na Ohio National Financial, uma empresa financeira.Estou la ha cinco anos.

Tenho tantos amigos!

Open in new window

Vou dizer uma coisa para voces: eu amo trabalhar! Adoro aprender coisas novas, diferentes. E gosto de GENTE. De pessoas.
Acho que quando a gente trabalha, a cabeca nao enferruja. Nao temos tempo de pensar em problemas. Sentimo-nos uteis.

Nem penso em me aposentar. Quero trabalhar ate quando puder. O meu fim vai ser trabalhar como "Wallmart Greeter".
Sao pessoas velhas, que ficam na porta do Wallmart saudando as pessoas que chegam:
"Bom dia! Seja bem vindo ao Wallmart!" "O sr. precisa de um carrinho?" "Ah que bonitinho seu filho!". "Nossa que chuva, heim?" "Olha, as promocoes estao otimas hoje!"

Quando penso que meu pai com 70 anos queria tanto trabalhar e nao tinha oportunidade.
Vejo essas pessoas velhas aqui que tem a oportunidade de sairem de casa, e serem uteis e ainda ganharem seu dinheirinho.
Eu as respeito muito! Sempre paro para uma conversinha, como uma boa brasileira.

E se me encontrarem, sejam simpaticos comigo. Tenham paciencia se eu nao escutar, ou nao entender da primeira vez que voces falarem. Com certeza estarei um pouco surdinha.

E no meu tumulo, quero escrito assim: "No dia em que morreu, trabalhou meio periodo".


*Mary Fioratti*

 
Autor
MaryFioratti
 
Texto
Data
Leituras
1263
Favoritos
0
Licença
Esta obra está protegida pela licença Creative Commons
12 pontos
6
3
0
Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.

Enviado por Tópico
Eureka
Publicado: 19/10/2014 11:26  Atualizado: 19/10/2014 11:26
Membro de honra
Usuário desde: 01/10/2011
Localidade: Lisboa
Mensagens: 4297
 Re: O TRABALHO É ESSENCIAL EM MINHA VIDA
Ó Mary, que partilha mais gostosa.
Parabéns pela sua forma tão generosa de partilhar a sua experência de vida com os outros.
Agradeço - te por teres partilhado este texto connosco/comigo. Foi um refrescar de alma que me deu gosto, fiquei a sentir-me mais leve.
Um grande beijinho
Eureka


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 19/10/2014 12:32  Atualizado: 19/10/2014 12:32
 Re: O TRABALHO É ESSENCIAL EM MINHA VIDA
Olá Mary,
Adorei ler suas meninices e depois seu crescimento, uma viagem a realidade da vida, que não espera pra acontecer, ri com a inocência da arte que produziu com as empadinhas e me deliciei com as imagens da sua passagem pela vida... Também tive as minhas e muitas lembranças recordei, e os suecos e a Johnson um passado meu. Nossa! foi bom relembrar as fases boas da vida, só que quando a morte chegar não quero ter trabalhado meio período e sim ter vivido cada segundo, antecedente, a sonhar...
Amei ler-te.
Obrigada
bj


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 21/10/2014 19:39  Atualizado: 21/10/2014 19:39
 Re: O TRABALHO É ESSENCIAL EM MINHA VIDA
Gostei imenso da sua forma de retratar o trabalho...exemplos não só requintados mas também envolventes e encorajadores Mary...o trabalho é indispensável realmente.
Para valorizar.

Gostei imenso da parte que fala das "empadinhas" que caíram na lama, também acontecem imprevistos assim e a última parte, tanto que vale a pena realçar:

"E no meu tumulo, quero escrito assim: "No dia em que morreu, trabalhou meio periodo"."

"Lutar" é viver, porque parar é morrer.
Magnífico.
bj