Oh… pudesse eu escrever assim! Descercar-me da ordinarice que aspiro e machadar a mente, ao ponto de a revelar com a mesma proporção com que nos embates.
Pudesse eu sentir essa pureza imune ao ar imundo oriundo das volições devassas que caracterizam estes retalhos de carne que deambulam. Retalhos de carne pútrida de que também sou feita.
Pudesse eu conhecer mais que a sombra que, própria, me ofereço, por me agradar a pacificidade que julgo encontrar. Idiota! Sim, eu sei… é medonha idiotice sequer pensar subsistir na sombra o sossego. O sossego não reside no ermo, reside em cada um. Basta o deixar habitar, abrindo alas até aos escombros recônditos da alma.
Pudesse eu falar a língua que tu falas. Quem te ensinou? O Amor? Sim, o Amor… esse grande vivido Senhor que afortuna, somente os mais dignos, de aprender e acarretar a sua palavra. Pudesse eu, um dia, conhecê-lo também…
Pudesse eu possuir esse brilho com que te pintas todas as manhãs. Essa brilhantina que resiste á chuva miúda, ao vendaval adolescente de temperamento agreste e á geada do longo Inverno tenebroso.
Pudesse eu possuir a chave da porta da câmara onde trancas as mágoas, que escondes de outros olhos. Pudesse eu possuir a chave que te veste tão pura e descobrir que não és uma fábula, Felicidade, mas de carne como eu.