Poemas : 

Orpheu

 
-Tenho ânsias, tremores na voz, medos nos olhos, calafrios nos dedos, quando penso nas palavras certas para te escrever um poema. Cantá-lo, chorá-lo, declamá-lo é coisa pouca, mas senti-lo, inspirando a luz que brota da fonte e dissertar sobre a linguagem da alma onde o Verbo se refaz em cada palavra renascida no cerne de um Poema?

- O misticismo em redor do círculo que envolve o Poema, trai o seu próprio movimento. Juntam-se letras, pontos e vírgulas, exclama-se e clama-se por vida entre uma palavra e outra, fora de ordem. Em outros planos onde guardas o pensar, algo te ditará um sentimento. E não, não danifiques o corpo do poema devassando o círculo que o protege ainda em segredos ocultos.

- Vou nadar no rio. Quero ir corrente abaixo até encontrar um ponto similar à trajectória das novas correntes no meu pensamento.Um Universo paralelo com coordenadas exactas para um pensar evolutivo.

-Banha-te na limpidez desse rio. As águas cristalinas trazem partículas de luz que se firmam no alto da serra. Cristais foragidos da fonte onde todos os Poetas choram. Cristaliza as ideias e atingirás a foz. Lá, encontram-se cristalizadas as formas exactas e concretas de uma corrente migratória e não ilusória. Talvez contraditória a tudo o que conheces no Universo poético de agora.

- Divagando sobre a minha inoperância para te escrever um poema, encontro-me nas tuas certezas, mas rimando com incertezas. Definitivamente vagabunda pelas ruas da minha cidade. Num dos muros, um grafiti espelha os olhos esbugalhados, um corpo desmembrado, e as mãos…as mãos na direcção do céu, como quem aponta para a Vida destituída de princípios evolutivos.

- A compaixão, a solidariedade, o Amor incondicional ainda são rescaldo nas mãos. Valores mais altos se levantam....a quererem atingir o topo da pirâmide, sem conhecerem a base de todos os princípios que deram forma à pirâmide.

- Fez-se luz nos meus olhos, firmeza nos meus dedos. A minha voz soltou-se no imediato momento em que caiu nas palmas das minhas mãos, o medo, e se condensou nos traços indeléveis e exequíveis à fermentação do pão.Caminharei descalça sobre a terra ensopada de todos os orvalhos matinais. As minhas pegadas serão rabiscos de um poema invertendo a ordem de todas as palavras escritas com os dedos das mãos.

- Escreverei o teu nome às portas de um céu que ruiu.Soletrarei as ondas do mar nos teus olhos. Verás quão grandioso é o horizonte a abrir-te um novo Universo onde a poesia já foi corrente quente a brotar da fonte de todas as notas líricas, tal como das novas palavras de Orpfeu.


Epifana & Ainafipe


Resulto de um modo de dizer as coisas, simples e belas, e tu és o meu guia, o meu assunto do dia, para me dizeres também, de quando tudo era branco nos meus olhos…
Epifania & Ainafipe

 
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Epifania
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Enviado por Tópico
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Publicado: 16/10/2014 19:33  Atualizado: 16/10/2014 19:33
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 Re: Orpheu
"escreverei o teu nome às portas de um céu que ruiu, ânsias, tremores na voz, medos nos olhos, calafrios nos dedos, quando penso nas palavras certas para te escrever um poem", mas "não danifiques o corpo do poema devassando o círculo que o protege ainda em segredos ocultos". e depois de uma primeira leitura onde me pareceu como uma prece,rio "corrente abaixo até encontrar um ponto similar", encontro "Cristais foragidos da fonte onde todos os Poetas choram", perguntarei Orpheu? ou "Definitivamente vagabunda pelas ruas da minha cidade"?
"um corpo desmembrado, e as mãos…
compaixão, a solidariedade, o Amor incondicional", e por fim a luz e a voz que se solta.
Excelente. Obrigado.

Agradeço-te