Agora que o sol se pôs
Resta noite e escuridão
Obtusa na dor que resvala
Em areia do meu coração.
Petrificado vazio que estala
A carne seca e exposta
Às investidas de irada voz
Uma fúria árida sem resposta.
Corpo uno e só, medo atroz
Ratos espreitam no algeroz
Falta o cheiro de companhia
Sobra silêncio, monstro feroz.
Ágil, a ansiosa lâmina fria
Cúmplice espada bem afiada
Cravada a jeito no peito quente
Abate a alma que jaz sentada.
Demora-se na lápide dormente
Toca amor o trompete negro
Pousado um corvo chora a dor
Que não pode chorar o sonhador.
Viver é sair para a rua de manhã, aprender a amar e à noite voltar para casa.