Porque, aqui, me detenho, testemunhando o sol franzino estalar, timidamente, por entre as nuvens carrancudas e pardas? Porque se abate a chuva e me molha a já encharcada alma? Porque o clarão das minhas quimeras e o soalheiro dos meus anseios não é suficientemente quente para a enxugar? Porque os olhos, embriagados de utopias, se abrem e avistam o que eu nego e recuso conhecer; porque o tempo mata toda a oportunidade de colorir os espaços que ficaram por preencher; porque os ponteiros do relógio da veracidade batem no sentido oposto ao meu, que não funciona contando os segundos, nem os minutos, nem as horas… mas as memórias.
Porque não entrego a luta que, logo ao nascer, já está talhada para a derrota de sucumbir? Porque espero, se nunca encarei bem qualquer, eventual ou ciente, situação de expectativa? Porque insisto e, clandestinamente, creio se afirmo desacreditar? Porque sinto a tua mão no meu ombro quando atiro a minha confiança pela janela fora; porque sou e quero ser o fundamento primordial de dilatar o engenho do meu horizonte; porque quero ficar, pois nem sempre ser feliz e livre é optar por ir; porque quero continuar a escalada do sentido, porque pressinto que há ainda muito por sentir, mesmo sabendo que há muito chão para tropeçar e muitos buracos para cair…
Porque espero por ti? Porque a lua me ensinou a esperar pelo dia que há-de vir.