Num corrupio de vozes que se emaranhavam, alguém tentou gritar mais alto. Tentou a colocação mais forte e loquaz que podia e, no entanto, não passou de calado.
Oh inclemência! Que coisas, estas que lhe vão fechando, vão fechando, fechando e fecham a garganta com predicados de tampas herméticas...
...é de boa a cortiça... o vedante, bem se vê. É secante que, não sendo tangente, atravessa de morte o que grita. Nem o mais forte dos canoros se faz ouvir, nem o mais apurado dos ouvidos o consegue discernir.
E fecha-se o grito.
Mesmo assim alguém tentou gritar tão alto, que quase lhe saltaram os olhos e as veias estiveram perto de rebentar.
Nada! Nada! Nem uma reacção. NADA! Simplesmente não passou de um pequeno e calado “ai”, que se ficou pela expressão ruborescida da cara e pela dor encarnada e purulenta do silêncio.
Que grite, que grite em surdina até rebentar os tímpanos com o grito forte que fica tapado logo à boca da boca. Tenta sair. Tenta sair, é verdade. Tenta tanto sair mas fica sempre preso à pele dos lábios secos.
Alguém quer... quis... voltará a querer e, talvez até volte a chegar-se a um grito mas... vai-lhe ficar só o choro. É o que fica sempre.
GRITA! Grita então tu! Atira ao ar o grito que não sai e grita que deixaste de ser um alguém qualquer. Grita desalmado como se morresses amanhã de morte atroz. Grita feroz num rugido desabrido capaz de ser grito.
Gritaste? Gritaste? Não te ouvi. Gritaste? Decerto resumiste-te outra vez a alguém.
Valdevinoxis
A boa convivência não é uma questão de tolerância.