Não te iludas, nem tentes criar expectativas vãs!
Não penses que voltarei para teus braços,
apenas por que acenas agora tênue esperança.
Tu decidiste deixar-me só nesta estrada,
partiste proferindo as palavras que feriram.
Então, não vais ouvir meus passos à porta,
mesmo agora que acreditas estar eu ansioso,
arfante, pesando horas e minutos para voltar.
Foram tantos longos os meses que contei,
neles entalhado talvez meu mais longo inverno.
Saibas que toda a chuva que caiu lavou a alma,
expungiu a tua doce fragrância do meu quarto,
deixando também o peito nu de sentimentos.
Não! Não te iludas, nem tente criar expectativas!
Não ouvirás vez mais meus passos na varanda,
nem o luar me verá ajoelhado suplicando teu amor,
mesmo que invada com raios de prata minha janela.
Sequer uma estrela desenhada no silencio da noite,
faiscará outra vez ouvindo sussurros delirantes,
nem haverá eco nas frondes das acácias da alameda.
Talvez, possa eu deixar a varanda e caminhar,
percorrer em silêncio o jardim margeando o lago,
onde nas noites tanto já refletiu tépidos sonhos,
absorveu tantos gemidos sob um céu sem nuvens.
Não. Não te iludas, nem penses que estou morrendo,
talvez haja primaveras ao longo do meu caminho.
De arrebatada figura,
sou altivo, sou forte,
não carrego lutos e mágoas,
até um dia enganei a morte,
na sua faina de colher almas
e renasci.