Ela virá outra vez. Talvez não do espaço sideral, nem fazendo entrada triunfal. Tenha certeza disso. Confie na intuição havida na mudez das paredes de uma casa de veraneio em pleno inverno. Sequer a brisa poderá agitar as nuvens como gaze drapejando a nudez desavergonhada das águas-furtadas. Refletindo trôpegos os últimos raios do sol. Pela vidraça entreaberta, pode-se entrever o incrível efeito pastel das pinceladas do vento sobre o campo de girassóis floridos.
Tenha certeza. Por que é verão mais uma vez. Mais de uma vez haverá brisas agitando nuvens. Haverá mãos suaves e desejáveis a fechar um fechou éclair. Algodão cirúrgico e gaze hidrofilizada cobrindo feridas na espaçosa sala.
Corpo nu besuntado de mel acre. Pétalas da janela corrediça voando como aves de arribação. Tantas me viram nascer e ficaram para presenciar os demais momentos. Sobre nossas vontades e acima dos sorrisos, seja este sol invadindo a janela premissa de radiante felicidade. Não se acabem doces carícias perfumadas de cravo e aloés. Também no gramado luminoso, feixes de ouro desprendem-se das ramas das árvores emanando fino buquê de madressilvas embebendo o algodão egípcio das camisas finas. Essas mesmas que presenciaram tantos momentos de dor embalados na voz de Gardel. Com um piano ao fundo, um copo de uísque e pouco gelo. Nossas almas assim o pedem. Meio caubói, meio empedernido, sabor extravagante.
Tenha certeza. Ela virá outra vez.....
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