Frustração
Foi bonito
O meu sonho de amor.
Floriram em redor
Todos os campos em pousio.
Um sol de Abril brilhou em pleno estio,
Lavado e promissor.
Só que não houve frutos
Dessa primavera.
A vida disse que era
Tarde demais.
E que as paixões tardias
São ironias
Dos deuses desleais.
Miguel Torga, in 'Diário XV'
Tema(s): Frustração Velhice
FRUSTRAÇÃO
(ansiedade existencial)
A Ela
Amor,
Escuta este último canto.
Senta-te a meu lado, nesta escarpa
Dá-me a tua mão, dá-me um beijo
E olha o mar
Como recordo o fim daquela tarde
Em que nos encontramos
Sem pensar na idade!
Corri a escrever-te
Para dizer-te
Que entraste fulminante em minha vida
Como o raio rompe a nuvem perdida
Como a minha vida.
Então,
Montei num cavalo alado
Negro, negro e garanhão,
Doido e nervoso como nós, na solidão.
Agarrei-te e subi-te no seu dorso
E logo me lancei
Em louca cavalgada
Galgando as nuvens do céu.
Louca ilusão! Tu e eu...
Agarraste-te muito forte a mim,
Ao meu costado
Largo
Suado
Pela vida chicoteado.
Então senti, querida
As duras dunas de teu peito
Roçando em mim.
Eu sorri.
Tu sorriste e gritaste
E com mais força te encostaste.
O alazão negro empinou
Relinchou
E escoiceou no ar..
As brancas nuvens se juntaram
E cortina fizeram
A guardar nosso segredo
Sem medo.
E no céu soou um cântico.
Paramos.
Nos beijamos,
Nos tocamos,
Sorrimos,
Nos perdemos.
E loucos, nós dois,
Nos amamos.
Quantos sonhos!
Quantos beijos!
Quantos sorrisos!
Sonhamos o impossível
Tornado possível !
Quantos desejos!
As mãos apertadas,
Entrelaçadas,
Suadas,
Loucas,
Trementes e ambiciosas
Procurando as coisas certas
Como se fosse a primavera das nossas vidas
Perdidas
Sofridas,
Cheias de dor
Doridas,
Meu amor.
Que paixões queridas
Perdidas,
Tardias,
Suadas,
Vivendo em gargalhadas!
Dedos cruzados!
Corpos suados!
Quanto carinho!
Ai o nosso vinho!
Que bebedeiras de amor!
Que roseiral em flor!
Ambos sabíamos
Que estávamos a sonhar
Arrastando as nossas vidas
Como as ondas do mar.
Ora fortes de paixão
Ora calmas de emoção
Desfazendo-se em espuma
Na bruma.
Para mim, querida,
Chegou o fim.
Contigo na alma,
Minha mente e peito
Estamos onde nunca estivemos.
E,
Como o cisne moribundo
Deixo-te o meu amor num canto final
Com saudade e dor.
Como isto aconteceu?
Não sei e nem consigo.
Mas foi extraordinário feliz e lindo!
Apenas isto te digo:
Amo-te. Foste o meu bem.
Deste-me a tua mão e luz
Foste tudo, até este final.
Que no futuro
Encontres um amor assim igual.
Que Deus te proteja
E te dê a merecida felicidade
Adeus querida!
Por favor
Lembra-te de mim.
Ou melhor,
De nós dois, com saudade.