A verdade
É uma caixa vazia
Onde depositamos
Qualquer coisa,
Anseios, vontades
Quando enfim
Encontro-te o seio.
A verdade
É uma caixa de Pandora,
Tudo pelo qual
Outrora
Lutamos,
Julgamos
E hoje jogamos fora.
A verdade
E um monte sinai,
Rocha ígnea
De grão fino,
Granito,
Muralha contra
Árabes e beduínos,
Pedra do judaísmo,
Fogo a queimar
O coração
Do idólatra
E do peregrino.
A verdade,
Rubus sanctus,
Ardente,
Lar socrossanto
Para monastas,
Sarças e serpentes
A seduzir-nos
Com tábuas
Para o ocidente.
A verdade,
Arquitetura
A pensar-se única,
Pura, o piloto
E o leme
Quando não passa
De corte, fratura,
Episteme.
A verdade,
Representação
De um mundo
Já representado,
Ilusão, machado
A amputar
A própria mão
E o passado.
A verdade,
Descoberta
Após jejuns
E orgias,
Caverna,
Domus aurea,
A natureza
Ao ver-se coroada
Por láureas
De mortal beleza.
A verdade
É um sol ao meio-dia,
Em pleno zênite
A abrasar-nos
Com ferozes ideologias,
Estrela, signo
A despontar
E morrer
Com constelações
E asterismos.