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Ninguém poderia reclamar

 
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Pertinaz que fosse ou não, ao menos seriam acirrados os ânimos. Obstinados com atuação de pernas de pau, trouxe muitos estrangeiros aferrados para o quintal. Insistente, deu a cada um deles uma chuteira dourada. Afastadas as dúvidas, alongadas as esperanças debalde esforços empreendidos visando à concretização do agora longínquo alvo, objeto de desejo de milhões de ancestrais acuados pela globalização da vida hodierna. Restaram irremediavelmente acuados. Compelidos a renderem-se sem que tivesse acabado o primeiro tempo. Sequer haveria então felicidade plena no lar sem que tivesse sidos forçados a dar banho no cão.
Nem todo preso pode ser considerado ladrão por atos e obras havidos na atuação durante uma batalha. Assim na paz como na guerra, se considerados combates, duelos em esforços diplomáticos podem fracassar. Mas não é comum numa luta o inimigo ser capturado no final da peleja. Nem abandonar de vez o prélio para sair para a rua distribuindo esmolas e cigarros aos mendigos que se viam envolvidos em tamanha punga inútil.
Que fique bem claro que no calor da refrega, a primeira carga da brigada ligeira foi improdutiva posto que não resolveu a demanda. Mantido o litígio, o bêbado quase ficou verde tanto que tossiu no meio do pleito, apertado na fatiota nova vestida especialmente para o deslinde da questão. Tomando a iniciativa e em prol do sucesso do empreendimento, jogou fora um sapato que apertava o calcanhar. Não teve muito tempo para planejar o papel dos mouros na defesa das muralhas ante os extraordinários estratagemas gregos. Seria militarmente inconcebível. Por incrível que pareça, aumentou as bases das pirâmides de forma admissível e bebeu pasmoso com os amigos festejando a inverossímil chegada do cavalo de barriga oca. Isso sem brigas acintosas, na varanda, tranquilo juto ao recato do regato resguardado. Havia sim uma felicidade contumaz e exagerada quando desapareciam os jogadores.
Mas recusavam-se a ser coagidos diante de todo constrangimento. Poderia ser considerado cínico e petulante, mas cada um deles tinha a si mesmo como alma casta e pudica onerada pelas benquerenças que imaginava possuir. Todos os amigos já haviam aconselhado a casar-se com a filha do banqueiro sequestrado se quisesse ver mitigado o cabedal onerado com a perda do troféu.
Mesmo diante das tantas agruras, naquela tarde preguiçosa não se seguiram discussões, gritos e nem brigas. O calor modorrento deixava todos preguiçosos demais para infringir a lei. Ninguém poderia reclamar do calor se fosse levado para a cadeia. Nem começar uma tempestade no copo de água pingada do toldo do bistrô naquela calçada parisiense enchendo fileiras de lindas garrafinhas azuis barrigudinhas.

 
Autor
FilamposKanoziro
 
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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 28/09/2014 16:17  Atualizado: 28/09/2014 16:17
 Re: Ninguém poderia reclamar
«Nem todo preso pode ser considerado ladrão por atos e obras havidos na atuação durante uma batalha.» uma profunda verdade, curti muito ler seu texto, esse final das garrafinhas no bistrô ficou da hora