"...manes surgindo no caminho às meias- noites,
trazendo à mente as realidades afastadas ..."
- Queria poder iluminar as vielas das meias-noites em mim -
Bem sei, amargamente eu sei
que sempre haverá sombras nas vielas da alma,
manes surgindo no caminho às meias- noites,
trazendo à mente as realidades afastadas,
insistentemente refugadas ao longo do cotidiano.
Por isso não quero sequer cogitar
a possibilidade que julgo infeliz:
descobrir alguma alegria na velhice!
Sinto o corpo fluindo para o pó,
fadiga tomando conta do existir.
Monótonos todos os dias que correm
agora como reles vela de estearina,
derretendo até consumir-se totalmente
na antevisão da morte próxima.
Em silencio, cismando absorto
[- talvez já um tanto resignado]
nas horas mortas das noites vazias,
tentar me convencer
[- mesmo que em vão ante o final abreviado]
que o tempo de espera pode ser mais longo,
que o momento final pode não ser diluído
na eterna repetição de alguns momentos fugazes,
para no final, talvez morrer convencido que valeu a pena
esta existência consumida na solidão premeditada.
Eu sei, tristemente sei
que não poderei fugir de uma vez,
refugiar-me no clarão do luar,
querendo iluminar com luz de prata
as vielas das meias-noites em mim.
" ...descrevo sem fazer desfeita,
meu sofrer e meus amores
não preciso de receita
muito menos prescritores."