Conheci dona Maria, nem vou denominá-la “benzedeira”! Prefiro descrevê-la: na estatura, com ternura, digo, é baixinha; corpinho frágil, mirrado; não ouve bem “assim evita de ouvir tanta besteira”! As vistas, estas sim, estão muito boas: quando nos olham, parece que vê nossa alma! Veste-se da maneira mais simples possível, humilde mesmo: camiseta de malha, sovada pelo uso, dessas que trazem o nome de empresas, de políticos,... ; saia longa, também sovada pelo uso! Sempre sorrindo, um sorriso descontraído, de confiança! Ah, interessante dizer que nunca consegui olhar por muito tempo em seus olhos, sinto-me... não sei como dizer,... indigno?! se não for isso, é algo parecido, só sei dizer que é o olhar mais límpido, mais franco e mais profundo que já vi! Ela é totalmente diferente desses Iluminados do Budismo ou de qualquer outra religião ou seita, sua simplicidade é... desconcertante! Mas, eu tenho, na minha casa, alguém que se compara à dona Maria, minha mãe! Minha mãe é como a dona Maria. Agora, dona Maria mudou-se, foi morar numa fazenda não sei onde; ela me disse que está evitando benzer, está muito fraquinha, doente.
Mas, por que descrevo dona Maria tão detalhadamente e, se assim entender o leitor, com muito carinho? Na verdade, quero falar de uma prática que, antigamente, era muito comum, a de recorrer a benzedeiras! Mas, atualmente, as benzedeiras andam sumidas, parece que estão desaparecendo. Estive conversando com algumas pessoas e o argumento para justificar o abandono da prática de benzer é que hoje a medicina evoluiu muito e está ao alcance de todos! Isso, não é bem assim! Ouvimos na mídia, todo dia, as superlotações em hospitais, os problemas de falta de médicos nos postos de saúde! Sem contar que a cada dia surgem doenças que deixam médicos de todas as especialidades “de mãos atadas” sem saber o que fazer! Se alguém disser que benzer é ineficiente em muitos casos, eu digo que a medicina também é. Então, esse argumento de que a medicina é mais eficiente e está a disposição de todos, foi por terra, não vale!
“Quem entra na chuva, quer se molhar” diz o prolóquio popular! Então, tenho de dizer o porquê de as benzedeiras estarem sumindo, não só dizer, mas justificar meu ponto de vista. Vamos lá! A expansão de o Protestantismo, engolindo velozmente o Catolicismo, é a primeira causa do sumiço das benzedeiras! Isso é muito fácil de comprovar, é só fazer uma rápida pesquisa para ver quantas benzedeiras se tornaram protestantes, é uma coisa impressionante! Então, vem a pergunta: por que isso aconteceu? Não é porque uma religião seja melhor do que a outra! E, estou como elemento neutro nessa análise, pois não pertenço a nenhuma das duas religiões, digo logo, sou espírita! Vamos ao que importa! Numa primeira análise, deve-se considerar quão sensível são as benzedeiras, são até influenciáveis com facilidade quando se usa o argumento Deus, Inferno, Diabo, Paraíso, Bem, Mal! E todo mundo sabe que o protestantismo diz que a prática de benzição é coisa do Demônio, que quem o pratica, assim como quem faz uso vai pro Inferno, vende a alma ao Diabo! Não faço nenhum julgamento, quem sou eu para isso? Que cada um analise o certo ou errado desse argumento. Mas, tenho de dizer, vivemos numa época em que não cabe mais nenhum tipo preconceito e/ou discriminação!Outro motivo de o sumiço das benzedeiras e dos benzedores é que o ser humano da atualidade está mais descrente! E, é fácil ver isso também, pois é tema recorrente em estudos psicológicos, psiquiátricos e de educadores etc!
Muitos outros argumentos poderiam ser aventados, mas não é esse meu objetivo! O mais importante de tudo isso é que eu conheci dona Maria! E ela me benzeu! Ela benzeu minha perna! Uma só vez! Fui curado! O que eu tinha na perna? Não sei! Como eu gostaria de mostrar como está ainda agora minha perna! Quando me vinha a crise, eu a furava com minha caneta, com a chave do carro, com o que tivesse em mãos e, à noite, quando vinha a crise, eu batia na minha perna com martelo ou qualquer outro objeto. Minha perna está, agora, enquanto escrevo esta crônica: roxa, cheia de hematoma! Eu faço hemodiálise! Imagina você ficar quatro horas sentindo uma lancinante dor, sentir queimando seu “tutano” dentro do osso da perna, a expressão queimando, não está no sentido figurado, é queimando mesmo! Os neurologistas que consultei diziam que é uma tal de síndrome das pernas inquietas e dá-lhe remédios! Não os condeno, queriam me ajudar, e como se não bastasse as altas doses dos remédios, eu os duplicava, quando me vinha a crise,... a dor era insuportável. Não estou tomando mais nada!
Agora, extremamente agradecido, estou planejando me tornar benzedor. Sim, benzedor! Estou me preparando para isso! Estou fazendo alguns propostos em minha vida, tais como, não falar palavrão, não falar mal,... enfim, ser uma boa pessoa. Eu sei que vou conseguir, minha mãe que sempre foi benzedeira e se tornou protestante, está me ensinando algumas rezas, após eu muito insistir! Por outro lado, eu conheço o valor terapêutico de muitas plantas! Num caso de necessidade, já benzo criança; já benzo de erisipela, de cobreiros,... Quero retribuir o bem que dona Maria me fez, com a permissão de Deus, e a ajuda de seus guias espirituais, quero retribuir esse bem, lutando pela manutenção das benzedeiras e dos benzedores,... Para finalizar digo: quem faz o Bem, não pode ser do Mal! Questão de coerência, de lógica.
Manoel De almeida