Não sou ninguém. Ainda assim, mesmo não sendo ninguém, gosto de me ser como sou. Assim... ninguém. Nada devo, nada temo!
Sempre me regi por valores. Valores esses que, vá-se lá saber porquê, deixaram de estar na moda nos dias de hoje. Caíram em desuso. Penso que, a continuar assim estarão até irremediavelmente perdidos para sempre. Inverteram-se as suas posições e o que antes se ensinava ser o bom e o mau desde tenra idade, a sociedade moderna descartou como quase tudo o resto que é descartável. Passou a dar-se valor ao que antes se recriminava e vice-versa. A irresponsabilidade e a consequente falta de respeito pelos outros, passou a ser vista como uma "criancice" e em vez de ser punida e severamente debatida pelos responsáveis, é meigamente perdoada sem prejuízo algum para "o miúdo".
Para além do mais, longe de mim ser alguém igual aos outros, que, não sendo igualmente ninguém, se julgam grandes. Os maiores! Pobres criaturas cuja insignificância se resume a uma mão cheia de frustrações a corroerem-lhes a existência. E lá do alto da sua ridícula vaidade, inspirados em sentimentos vis, opinam sobre a vida alheia para uma plateia de iguais...
Miserável forma de vida que nada de admirável produz, a não ser a desprezível satisfação de matar uma fome de lobo.
E eu, em silêncio, observo o quadro não descurando os pormenores que aparentemente poderão passar despercebidos à grande maioria. Depois afasto-me com a sensação de olhares a fulminarem-me as costas. Sinto-lhes o calor. Felizmente não matam, apenas me moem no pensamento.
E uma pergunta ali a martelar e a ficar sempre sem resposta: Porquê?
Cleo (Lurdes Dias) 21 - 09 - 2014