Eu estou a pensar e olho absorta. E em estado letárgico, desnudo meu anel que está num pote de vidro fosco e ondulado, e minhas mãos em bailado de dedos e unhas, tiram dele meus anzóis de cores e formas...
É outono aqui, e o ladrilho da janela condensa sereno e poeira.
Estou atordoada com o barulho dos carros, que passam na esquina de minha casa...
A rotina das horas é a mesma...pelos meandros da vida, somos meras vestimentas...
E meu anel ametista me olha quieto, tranqüilo e quase me suplica para tocá-lo.
Eu teimosa e irremediavelmente indiferente, olho avessa a todas as suas formas...
Dúbia vontade, meus dedos e ele, mas prefere o silêncio dos dias...nada fazem para sair da letargia...
Nas páginas de um livro aberto, em que as orelhas estão vermelhas e rotas pela incerteza...Inebrio minha história em ametistas naturezas...cores d'alma.
Não rabisco mais este livro, mas sim o leio, o permeio folha por folha, letra por letra, ponto por ponto...até chegar às traças que em traços mórbidos, corroem-no inteiro...
Me distancio do vidro ondulado, e me preservo das insanas faces. Permito-me chorar, e é muito bom para alma...a garganta sopra purpúreas formas. Evoco as gaivotas do céu, e por imensas curvas viajo em rota direta...mesmo que apenas termine a viagem na penteadeira do quarto envernizada pelas imagens de meu retrato cansado e efêmero...
Aqui jaz uma saudade!
"Mestre não é quem sempre ensina, mas quem de repente aprende." (Guimarães Rosa)