Poemas : 

mão decepada

 
Data do Poema – 29 Setembro 2007
Autor – António Casado
Editora –
Data publicação –
Registo IGAC –
Trabalho –


MÃO DECEPADA
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Quanto te dei a mão
Arrancaste-me os dedos todos!

Mesmo que o sol rasgue as nuvens e as deite sobre mim
Mesmo que as trevas imperem sobre o perfume das flores
Das lágrimas derramadas, das dores de parto
Sob a copa das árvores derrotadas
Mesmo que as estrelas sequem o mar em chamas
E em todas as noites um defunto se passeie pelas ruas
Mesmo que a vontade seja um caos ou um barco
Perdido no recanto das asas de um navio perdido
Ou as sombras da montanha caídas sobre a planície
Arrancarão todos os medos que o mundo poder suportar!

Sou a luz que romperá todos os olhos e os cegos verão
O clamor que se lança de todas as garganta e as vozes gritarão
Todos os animais poderão repetir os sonhos
E acordarem dentro de cada flor como insectos
Saciarão de amor e conhecimento as constelações
Porque dentro da dimensão infinda de qualquer razão
Estará a grandeza de se aspirara a chama da certeza
De lutar pelo que acreditamos como uma condecoração!

Será fácil, demasiado fácil, contar os pigmentos da pele
Ter a certeza final de que serão a verdade de todas as raças
Como pedaços de nada e tudo que preenchem o infinito
Enquanto a parte indomável da nossa disponibilidade de sermos infantes
De uma aventura gigantesca, como a descoberta de um lírio
É tão importante como um continente perdido na neblina.

Ao decepares a meus dedos levaste contigo a viagem…
Nem o vento gritou, de tão pouco importante.
Os meus dedos representavam somente um caminho
Sem transparência, sóis dúbios, ilusões
Arbítrio de ser aquilo que era, de construir o que queria
Pela extrema devoção de uma panóplia de certezas
Pois quando tudo se sabe recusa-se a voz que fala
Que medita sobre o nosso corpo e adianta
Um verbo às palavras escolhidas e ensurdecidas.

Acreditem no que quiserem, pois desejamos o que acreditamos
A simplicidade de tudo querer é um barco à vela num mar turbulento
A certeza a chama de uma vela inconstante que oscila
Ou a razão do vento impelido pelo olhar de uma criança
Porque os dedos são a faculdade de superarem obstáculos.

Permissivo a todas as vontades, redijo cartas vazias ao mundo.
Dessa forma com os dedos decepados de poeta posso dizer
Que o mundo acrescenta mais aos meus dedos
Que a loucura impensável de uma mão decepada.

De qualquer forma, ser-se o que se é, é ser-se grande
Dentro da grandeza que o pensamento simplifica
Enquanto permanece em todos os seres a possibilidade
De serem o que são dentro de todos os limites…
Mas os limites da humanidade são o Universo!
Quem crê no Universo crê na vida!
Quem crê na vida, crê em si.

Todas as flores nascem indubitavelmente num jardim
Seja qual for a terra onde ganhem raízes
Seja qual for o jardim em que proliferem!

Decepaste os dedos, não decepaste a cabeça!
O vento escreve por mim no vazio do papel.

 
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acasado
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