Prosas Poéticas : 

Venho de domesticar a dor

 
Tags:  José Ilídio Torres  
 

Estou aqui a amestrar o silêncio no silvo da bala, ansioso por salivar o teu corpo.
Trago dos tempos a empreitada do poema, a ânsia sôfrega de construir pirâmides no teu ventre.
Ninguém me ensinou a ser asno, roda de moleiro, mas espreito na corrente da vida os peixes, os arco-íris das pálpebras, como criança enjeitada.
Tenho asas e não voo, guelras, e não respiro que não seja por palavras, verbos.
No teu peito eu cravei estacas a demarcar os pastos da fome, os limites das enseadas tristes onde naufrago, cactos.
E nas falésias, tombando infiel sobre as rochas, eu acasalo com as marés e os ventos, as caravelas carunchentas do meu país.
Nem sereias nem cantos, nem casas nem prantos.
Ser poeta é morrer a cada dia envenenado como cão vadio, espumando nas vagas.
Espumando nas vagas, quantos?

 
Autor
José Torres
 
Texto
Data
Leituras
1176
Favoritos
1
Licença
Esta obra está protegida pela licença Creative Commons
23 pontos
5
5
1
Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.

Enviado por Tópico
Migueljaco
Publicado: 12/09/2014 13:54  Atualizado: 12/09/2014 13:54
Colaborador
Usuário desde: 23/06/2011
Localidade: Taubaté SP
Mensagens: 10200
 Re: Venho de domesticar a dor
Bom dia Silva, seus versos enredam um personagem inquieto com os desmandos que o circundam, porem sem ferramentas para desvencilhar-se de tantos agouros, resta-lhe conviver com estes da forma que menos os massacrem, e faz uso da poesia para dar vasão as suas angustias maiores, parabéns pelo contundente poema, um abraço, MJ.


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 12/09/2014 15:06  Atualizado: 12/09/2014 15:06
 Re: Venho de domesticar a dor
A poesia como ferramenta de expressividade daquilo que habita dentro da alma de cada poeta!

Viajei pelas tuas palavras!

Belo!

Beijos,

Anggela

Enviado por Tópico
Transversal
Publicado: 13/09/2014 01:31  Atualizado: 13/09/2014 01:31
Membro de honra
Usuário desde: 02/01/2011
Localidade: Lisboa (a bombordo do Rio Tejo)
Mensagens: 3755
 Re: Venho de domesticar a dor
Continuas em grande forma Poeta Ilídio Torres, muito agradável reler-te quando escreves

"tenho asas e não voo
estou aqui a amestrar o silêncio no silvo da bala
e nas falésias
nem sereias nem cantos"... como ser poeta "espumando nas vagas" e depois "quantos?" como poderia ser quando? Obrigado Poeta.

Agradeço-te

Enviado por Tópico
amopoesias
Publicado: 20/10/2015 20:52  Atualizado: 20/10/2015 20:52
Da casa!
Usuário desde: 24/07/2008
Localidade:
Mensagens: 311
 Re: Venho de domesticar a dor
Versos soberbos... Um belo respirar em "verbo".
Abçs!