NA COPA DA CASA DA MINHA MÃE
Na copa da casa da minha mãe
Havia uma baliza
Que tinha vista semi-nua
Para a rua
A bola que não tive
Saltitava no molhado empedrado
Das raízes das cebolas
Da rua
Na copa da minha mãe
Brincava com jogadores de plástico
Organizava festins de cerveja
Na rua
Enquanto embebedava
Os jogadores de plástico
Escrevia a merda de um poema
Que chateava quem passava
Na rua
Peguei nos jogadores de plástico
Pu-los na fogueira do peixe assado
E o cheirinho das notas de milhão
Perfumou os sem cérebro
Da minha rua
Enquanto escrevia um poema de merda
Sem a lembrança dos estádios
Que enchiam de alegria e prazer
A minha fome
Virada para a rua
Ou a escola sem professores
Porque os pássaros cantarolam na janela
Da minha rua
Os hospitais sem médicos
Porque a saúde é vendida em pacotinhos
Na minha rua
Porque com cerveja, big-brothers, futebol
Palhaçadas de entretenimento
Promessas religiosas de que amanhã serei rico
E a mentira dos telejornais comprados à grama
Hipotequei o meu cérebro
Agora não penso
Na minha rua.