eu sou mulher de duas faces
que carrega uma alma dividida
tenho no rosto a prova cabal
da invasao moura em Portugal
olhar noturno, ora limpo, ora sujo
e um lado árabe, e o outro, luso
e quantas assim como eu nao há
que vivem um pouco aqui, um pouco lá
com toda a água do mundo a nos cercar
tantas guerras, tantas dores
muitas lutas e penhores
de histórias, lágrimas e amores
eu carrego essa marca indelével
de um tempo de maldade e escuridao
que me arrastou às chamas da fogueira
perseguida pela unjusta inquisicao
sao imagens que eu nao quero ver
e que me roubam a paz e o esquilíbrio
todos os dias eu tento me esquecer
daquelas brasas e de todo meu martírio
assim minha alma é feita
do brilho de um cristal facetado
que reflete toda a minha existencia
dos tempos de um povo massacrado
minhas cinzas foram entao esparramadas
e jogadas a outros tantos ventos
sou mulher de alma experimentada
e hoje vivo outros momentos
mas minha essencia sempre será marcada
de uma mulher que morreu queimada