Há quem fale e não diga. Eu opto por dizer e não falar. São escolhas.
A fala torna-se repetitiva e trivial. Fala-se por falar, mas não se diz por dizer. A fala instala-se entre o dito e o não dito, por isso, nem sempre, tem significado algum.
Eu digo que o dia está lindo, e está deveras lindo! O sol irradia o espaço, clareia-me os olhos, expande-me a calma. O chilrear dos pássaros, que pousam no telhado, combina tão bem com o sol e o céu desmaiado de azul. Tudo isto vos parece, pateticamente, estéril, eu sei! Mas o parecer é algo que assenta, perfeitamente, na superficialidade. Acho que está tudo dito, não está?
O dia está lindo, é um facto. E não o digo por dizer. Não vou falar que o dia está lindo. Falar com as paredes não é bem um passatempo preferido, embora o pratique muitas vezes, como resultado da doidice.
Estar doida tem o seu lado bom. E a doidice é relativa. As mentalidades também. A doidice é capaz de admitir o que é e o que não é, conscientemente. Embora não pareça muito coerente um doido distinguir a realidade da doidice. Mas a doidice admite, mostra-se e, a sanidade esconde, tapa, dissimula, inventa, manipula.
Estou sã na minha doidice, mas doida na minha sanidade. Será? Como pode um doido saber se é um doido saudável? Não sei, devo ser doida supérflua. Apenas sei que posso afirmar, seguramente, que a doidice me faz bem, sinto-me bem nela. A sanidade magoa-me, por isso evito-a, não a desejo.
Digo, então, que sou doida. E se o digo é porque, realmente, o sou, senão limitava-me a falar.