Poemas : 

O POETA DA LUA CAP 1 - PAG 4 A 5

 
O POETA DA LUA
Romance de António Casado
Capítulo primeiro – pág 4 -5

CAPÍTULO PRIMEIRO


Misteriosa noite!
Como um livro de estrelas solta as palavras no ar e as deixa suspensas a gravitar assim é a abóbada celeste minada de pontos luz, focos de um circo olímpico que se derramam sobre o palco da vida ante a fantasia entusiástica das crianças. O negro é apenas o fundo da tela onde todos os sonhos se materializam. Estende mais um passo no empedrado da praça. O eco é um sussurro acústico, uma folha de acácia a cair desamparada sobre o tojo verde, um segredo revelado pelo pólen. Decifra a mensagem da natureza como um catraio aprende a dizer “mãe”. Muito ao longe, para lá do horizonte, como tambores fortes e ritmados a anunciarem um feito importante às aldeias vizinhas, o compasso dos passos é um relógio. Senta-se na esplanada de um café. De cada um dos lados uma cadeira vazia. Servem-lhe a bica entre rumores e risos. Acende um cigarro. Abre o jornal futuro abandonado sobre a mesa na página do Zodíaco.
“Esqueça o passado. Encontrará o que necessita se procurar”.
O passado… A foto do xaile negro duma fadista falecida! Guarda-a como recordação na gaveta carunchosa de uma velha cómoda esquecida num recôndito compartimento na casa das saudades. As cortinas opacas e amarelecidas ofuscam a luz. Sobre o tampo empoeirado da mesa puída uma pétala de rosa seca. O passado… Todo o passado é presente. A dor visita-o com assiduidade e traz na lapela a estampa de uma espada e de uma flor que decepa ou acarinha com muitos mimos, ternuras e punhaladas. De que necessita? Nada! A tão almejada liberdade chegara. Que bem que ela lhe faz…!
Numa das pretas cadeiras de ferro fundido senta-se o Destino. Pálido, irrequieto, esguio… Quer dizer alguma coisa. Bandeia-se como folha de papel empurrada pelo vento. Em nada detém a atenção. Bate com os dedos na mesa, acende fósforos, rasga papéis… Aguarda que lhe pergunte porquê. Não pergunta. Qualquer premonição tem o sabor da losna: Enquanto o estômago canta virtudes o rosto contrai-se com o amargo do chá. O destino não lhe interessa. Fala do futuro de uma forma grosseira como se nada fosse possível alterar e onde tudo se consumasse na fatalidade das premonições. Resumindo: O caminho fora definido pelos astros ou pelos deuses antes do nascimento e terá de o cumprir, sem apelo nem agravo, como robot espoliado do livre arbítrio. A fatalidade do Destino é como o cigarro: Existe enquanto o quiser fumar. Não, não o quer ver. Distrai o olhar pela lua e recorda a juventude…


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A voz da mãe era um eco longínquo repercutido nas paredes do tempo…

 
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